23.8.06

Toilette

Quem garante que ao escovar os dentes eu não esteja escovando a alma?

Não sinto o sabor de menta ou de clorofila.

Muito menos o hexaclorofeno.

Na boca, apenas, o gosto dos sonhos da noite insone.

Uma mão lava a outra e as duas (em concha) lavam o desgosto.

O pincel, o creme, a espuma a se espalhar na face descoberta.

O gesto ritual de retirar das têmporas a espuma.

A lâmina afiada a deslizar em meu disfarce oculto.

O pente põe bem comportados os fantasmas negros e brancos do pesadelo

de ontem.

Até que a noite volte a confundi-los.

por Flávio Sátiro Fernandes

3 comentários:

Anônimo disse...

Um texto poético e denso.... frágil como as almas costumam ser,e delicado com a grandeza do "ser". Abraços Fraternos

Henrique disse...

Estamos poéticas, hein? ;-)

)O(Lua Nua)O( disse...

Limpo e direto...