24.7.06

Ode ao Menino Jesus

por Hana

Eu não sei se esta é uma narrativa fictícia. Simplesmente não sei. Não sou capaz de precisar até que ponto eu meramente inventei uma história, ainda que baseada numa experiência que realmente vivi, e a partir de onde começa uma descrição fidedigna de fatos reais. O que eu sei é que eu a vi. Sim, amigo leitor, eu a vi, e também a ouvi. Na verdade, eu almocei com ela: A verdadeira Verdade! Aqui, pretendo contar como tudo se deu. Se o meu relato puder ajudá-lo, de algum modo, ficarei muito feliz. Senão, agradeço a atenção. Como diz São Paulo numa de suas cartas: “Façam prova de todas as coisas, e fiquem com o que é bom”.

Estava saindo do médico. Após a consulta teria ainda que ir para o trabalho. Estava com fome, já eram aproximadamente meio dia e quarenta e cinco, eu havia levantado cedo, e estava até agora apenas com um cafezinho preto e um minúsculo pão de queijo. Não imaginava que a consulta demoraria tanto, por isso não tinha levado quase nada de dinheiro, e aquele lugar é um bairro chique, qualquer restaurante é caríssimo. Eu trabalho no centro da cidade, onde tudo é muito mais em conta. Mas estava com fome e sem paciência para “encarar” meia hora de ônibus até poder comer. Por isso andei pela Avenida Brigadeiro Faria Lima procurando alguma lanchonete com jeito de não ser tão cara. Depois de uns quinze minutos passeando, ao passar em frente àquela pequena galeria, onde até bem pouco tempo havia o cine Call Center (nunca entendi o porquê desse nome – hoje no lugar há uma igreja evangélica), resolvi entrar. E logo no primeiro corredor, do lado esquerdo, vi que havia um restaurantezinho, simpático e com preços bem em conta, pelo que pude observar no menu, afixado na porta de vidro. Entrei, e só então percebi que o lugar estava lotado. Andei até os fundos do estabelecimento e voltei, olhando para as mesas. Todas ocupadas. O cheiro que dominava o ambiente era muito bom, e meu estômago reclamava. Mas já ia me encaminhando para a porta de saída, porque parecia que estava mesmo lotado. Foi quando vi uma mesa vazia. Já ia me acomodando, ajeitando minha bolsa no canto da mesa, quando percebi bem atrás de mim quatro homens de terno, já se preparando para sentar nesses únicos lugares vazios, e ocupar a última mesa disponível. Na mesma hora pensei: “Eu cheguei primeiro!” – Mas aí vi uma antipática garçonete chegando do meu lado, falando em alto e bom tom, para que todos os presentes pudessem ouvir: “Esse lugar está reservado!” – Não falei nada, só esbocei um sorriso amarelo, retirei minha bolsinha, e assim, meio constrangida, meio irritada, voltei a me dirigir, dessa vez mais depressa, à porta de saída. Ia passando sem olhar para os lados, envergonhada e de cabeça baixa, depois dessa minha pequena gafe. E foi então que aconteceu o que me motivou a estar agora escrevendo. E foi de um jeito completamente ordinário, comum. E foi totalmente inesperado, quando parecia que vivia apenas mais uma experiência dessas triviais, absolutamente rotineiras, que nada têm de especial... Naquele instante, pelo canto dos olhos vi uma mesa de quatro lugares vazia! Quero dizer, quase vazia. Um lugar estava ocupado por um homem. Num primeiro momento, fiquei surpresa ao ver estes lugares vagos. Eu já tinha passado por ali... Mas agora eu não queria mais! Primeiro porque a atitude da garçonete me deixara furiosa. Segundo porque não me sentiria à vontade me sentando, nem à frente, e muito menos ao lado de um homem estranho. Sou muito bem casada, diga-se de passagem... Mas aí, quando vi esses lugares vagos, pelo canto dos olhos, percebi também que o tal desconhecido me olhava fixamente. Esta é uma daquelas coisas que acontecem com todos nós, seres humanos, e não sabemos explicar exatamente como ou porquê. Quando sabemos, às vezes até “instintivamente” que alguém nos olha, sentimos um impulso quase irresistível para olhar de volta. E assim aconteceu: Olhei para aquele homem. E, olhando para ele, vi que sorria para mim. Talvez por um milionésimo de milésimo de centésimo de décimo de segundo, eu tenha chegado a pensar que flertava comigo, ou coisa dessa ordem. Mas bastou fixar o olhar, para perceber que não.

Não havia quaisquer traços de segundas intenções naquele olhar. Era um homem de aparência jovial, porém que transmitia um certo ar de maturidade. Usava cabelos longos e tinha o rosto sombreado por uma barba cerrada, com uns dois ou três dias por fazer. Como sorria, impossível não perceber a perfeita conformação daqueles dentes muito brancos. Pele de um tom bronzeado. Cabelos castanhos, com nuances de acobreado. Camisa xadrez cinza, muito simples, já meio desbotada. Os cabelos, que deviam chegar à linha dos ombros, quando soltos, estavam desleixadamente presos atrás da nuca, com casuais fios soltos escapando por cima das orelhas. Sei o que as leitoras possam estar pensando ao ler esta descrição. Que homem atraente! Mas juro que, ao vê-lo, este tipo de observação não me passou pela cabeça, nem por um segundo. Claro que apesar de casada estou viva, e sei apreciar a beleza masculina. Mas... a visão daquele rapaz sorridente me provocou, isto sim, uma sensação completamente oposta. Algo como o que se sente ao reencontrar um parente muito chegado, ou um velho amigo que não se vê há anos. Ele fez um gesto com a mão, para que me sentasse à sua frente. Mas eu estava decidida a ir embora...

Então me sentei no lugar vago à frente do homem desconhecido que ainda me olhava e sorria. Ele disse: “Pode ficar à vontade...” – Minha irritação com a garçonete mal educada passou instantaneamente, ao ouvir sua voz, como que por mágica. A voz era suave... mas firme. Ouvi-la foi um bálsamo para meus ouvidos. Fiquei constrangida por um instante, mas logo me senti muito à vontade, embora ele não tirasse os olhos de mim. Olhos de um castanho claro incomum. Peguei o menu, aberto à minha frente, sobre a pequena mesa de fórmica branca. Sentia que o estranho ainda me observava. A garçonete chegou, ele pediu o seu prato (perdoe-me curioso leitor, mas eu não me lembro qual foi, porque estava tomada por uma emoção forte e desconhecida). Pedi o especial da casa, sem ao menos saber o que iria comer. Ele continuava me olhando, e eu repentinamente percebi que alguma coisa importante estava me acontecendo. Eu estava sendo transportada de minha condição humana ordinária, para qualquer lugar mais elevado, mais bonito! Os pensamentos racionais dentro de mim já começavam a gritar alto, tentando sufocar a certeza com que meus sentidos me batiam na face! Um vigoroso turbilhão de cores, formas e sensações me tomou de assalto. Fui invadida, num segundo, por uma torrente magnífica de pura loucura, até que finalmente abri e levantei meus olhos, e direcionei meu olhar para aquele rosto! Ele me olhava sim, ainda. Minha boca se abriu, como que contra minha vontade, e uma frase escapou por entre meus lábios.- Você... é Ele, não é?.. – minha voz estava fraca, mas soava nitidamente.

- Sou Eu mesmo – ele respondeu, ainda sorrindo. E completou – Você disse que queria conversar comigo. Que se pudesse, gostaria de ter uma conversa comigo. Comigo e com o Albert Einstein. - Não dissemos mais nada. Nos instantes seguintes, se é que o tempo existe, eu compreendi tudo. Todas as respostas que eu vinha procurando há tempos, finalmente se revelaram. Os porquês desfilaram diante de mim, um a um, enquanto eu, encantada, descobria que a felicidade existe. Tudo que pude fazer depois foi um resumo do que aprendi naquele dia. Mas as explicações são sempre muito imperfeitas, quando se tratam desses assuntos. Transubstanciar o ilimitado intangível em palavras não é tarefa possível. Aí vai:

A inteligência atrapalha tudo. Quanto mais tentam entender, mais se afastam da Verdade. Isso já foi dito antes, mas os homens não podem entender este tipo de ensinamento através da palavra escrita, simplesmente porque, para ler, precisam usar o intelecto. E o intelecto humano é uma ferramenta limitada, que não pode abarcar o infinito. Use sua Consciência. Este é o maior presente que receberam. É a Consciência que faz de você um ser humano, e não um animal, um inseto ou uma planta. Veja os macacos. Recentemente, cientistas descobriram que o código genético de um gorila, por exemplo, é 99,6% idêntico ao do homem. Ou seja, geneticamente falando, homem e macaco são mais que primos. São praticamente uma mesma raça. São fisicamente iguais! E você sabe qual foi o maior feito jamais realizado por um gorila, na natureza, sem auxílio humano? Usar um galho de árvore como apoio, para ajudar a atravessar um rio. E mesmo assim, este “incrível” feito foi observado apenas uma vez. Deixou desvairados cientistas e biólogos! Enquanto isso, seus irmãos humanos constroem computadores e mandam robôs até Marte, para controlar seus movimentos daqui da Terra através de uma caixinha com botões! Então, onde reside essa incrível diferença? Agora já sabem que não é física, posto que geneticamente são praticamente idênticos. Não está no cérebro, portanto. Esta imensa, colossal diferença, não está, absolutamente no corpo físico. Então, que diferença é esta? Este poder inominável que faz com que andem anos luz à frente de qualquer outra criatura conhecida? A chave do poder humano é a Consciência, e o único acesso possível a ela é por meio dos sentimentos; das emoções. Sabe como nascem as doenças? As insanidades, a loucura, os conflitos psicológicos? Eles surgem onde há emoções mal resolvidas. E só podem ser curados por meio do direcionamento correto dessas mesmas emoções. Este é o único caminho possível, esta é a chave para a auto-realização. O controle das próprias emoções. O pensamento racional, analítico, o intelecto, toda a erudição humana, só servem para atrapalhar. São obstáculos no caminho da verdadeira Liberdade. Agora você tem a solução. Use-a. SEJA E FAÇA. Você já está calejado de saber quais são as emoções que deve cultivar e as que deve rejeitar.

"EIS QUE ESTAREI CONTIGO ATÉ A CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS"