13.11.06

Porque Gosto de Thomas Merton

"Sem dúvida, é verdade que a religião num nível superficial, a religião que é infiel a si mesma e a Deus, pode facilmente tornar-se o ‘ópio do povo’. Isto acontece sempre que a religião e a oração invocam o nome de Deus por motivos e com propósitos que nada têm a ver com Ele. Quando a religião se constitui numa mera fachada artificial para justificar um sistema social ou econômico — quando a religião empresta seus ritos e sua linguagem para os propagandistas políticos e quando a oração vem a ser um veículo para um programa ideológico puramente secular, então, sim, a religião se torna um opiáceo. Amortece o espírito a ponto de permitir que a ficção e a mitologia substituam a verdade da vida. E isso acarreta a alienação do fiel, de forma que seu zelo religioso torna-se fanatismo político. Sua fé em Deus, ao preservar fórmulas tradicionais torna-se, de fato, fé na sua própria nação, classe ou raça. Sua ética deixa de ser a lei de Deus e do amor e se transforma na ‘lei do mais forte’: o privilégio estabelecido justifica tudo. Deus está no status quo.”

“A oração não nos cega ao mundo, mas transforma nossa visão do mundo e nos faz vê-lo, assim como ver todos os homens e toda história da humanidade, à luz de Deus. Orar em ‘espírito e verdade’ nos permite entrar em contato com aquele amor infinito, aquela liberdade impenetrável que está por trás das complexidades e dificuldades da existência humana.”

"Contemplative Prayer", de Thomas Merton - (Doubleday, New York), 1996, p. 112-113