10.8.06

Hoje

Um pequeno conto metafórico baseado em uma história popular, de autor desconhecido.

Um belo dia um homem resolveu fazer uma faxina no porão de sua casa. Ao revirar alguns antigos objetos e móveis, há muito esquecidos pelos cantos do empoeirado aposento, encontrou um velho baú, entre outros caixotes, e, curioso, resolveu explorar, com certo cuidado, seu conteúdo. Foi assim que, ao remexer bem no fundo, percebeu que emergia, do mofado escuro, um objeto de formato um tanto quanto inusitado: Uma lâmpada árabe! Como estivesse bastante empoeirada, o homem pensou em limpá-la, e foi exatamente nesse momento que algo ainda mais inusitado aconteceu, quando começou a esfregá-la com uma flanela. O que poderia ter sido? Sim, esse princípio não é nem um pouco original, eu reconheço: O que houve foi isso mesmo que você já imaginou. Um gênio maravilhoso apareceu; e foi logo explicando:

- Estava preso nessa lâmpada há muitos séculos, venho acompanhando a sua família há várias gerações. Foi seu tataravô quem resolveu guardar minha lâmpada no fundo deste baú, por achar que eu poderia provocar problemas para vocês, humanos. Desde então, estou esquecido. Agora, você é o meu novo amo. O que acha?

- O homem, estarrecido, lembrava-se de sua ascendência oriental, enquanto o gênio ainda falava...

- Como um gesto de agradecimento, posso realizar três desejos seus. Pode pedir o que quiser, e eu realizarei.

O homem estremeceu ao ouvir aquilo. – Quer dizer que posso pedir qualquer coisa que eu queira? – perguntou, sentindo uma euforia crescente, que já mal podia controlar.

- Qualquer coisa material, sim.

- Isso é demais!! Deixe-me pensar muito bem... preciso ver... tem tantas coisas que eu quero... Talvez um carro novo... Não, um carro, não! Uma Ferrari esporte! Mas eu nem conheço direito os últimos modelos... Uma casa na mais linda praia, com uma piscina enorme!.. Eu poderia pedir um jatinho, só pra mim... Mas aí teria que pedir também um aeroporto particular... Pensando bem, é melhor pedir um milhão... de dólares, claro. Quer dizer, um milhão não, um bilhão! Cem bilhões! Talvez uma mina de ouro no meu quintal! Que não se esgotasse nunca! Assim, poderia ter o que eu quisesse, para sempre... Saúde não pode, ele falou que tem que ser algo material...

Ele ainda pensava, quando o gênio retrucou:

- Mas há ainda uma coisa a ser dita, amo. Entenda bem: Você receberá um prêmio extra. Saiba que, além de tudo que pedir, você tem direito ainda a um “bônus”: Tudo que você ganhar, o seu irmão também receberá, e em dobro. Isso não é maravilhoso?

- Acho que não entendi bem – respondeu o ainda aturdido descobridor da lâmpada mágica.

- Isso quer dizer – respondeu o gênio – que ao realizar os seus desejos, você estará também presenteando o seu irmão, em dobro. Tudo que você pedir, terá. Mas o seu irmão receberá o mesmo, duas vezes mais. Não entendo porque seu tataravô achava que algo assim poderia causar problemas para a humanidade...

- Então, se eu desejar um carro conversível...

- Você o ganhará. E, além disso, seu irmão receberá dois carros iguais.

- Um milhão de dólares?

- Um milhão depositado na sua conta, imediatamente. E dois milhões na conta do seu irmão.

- Entendo... – ponderou o homem – porque isso?

- É uma lei que eu preciso seguir, porque sou um gênio do bem. Os gênios do bem só podem agir desta maneira, esta é uma benção em dobro para você. Gênios do mal realizam desejos presenteando seus amos com coisas que tiram de outras pessoas, em algum lugar do mundo. Por isso há tantos reveses inexplicáveis por aí. Comigo é o contrário. Para sua sorte, como já disse, eu sou um gênio do bem.

O homem pensou por longos minutos. Parecia indeciso, andava de um lado para outro, dentro daquele porão mal iluminado. Finalmente se voltou para o gênio, que sorria bondosamente. Encarou-o muito sério por um instante, e então, finalmente, falou:

- Já sei.

- E o que vai ser, amo? – perguntou o gênio, pronto para concretizar sonhos maravilhosos. Ao que o homem respondeu:

- Eu quero que você me fure um olho.

6 comentários:

)O(Lua Nua)O( disse...

Isso é porque o mau habita a alma do homem...

H K Merton disse...

Usei o título "Nosso Tempo" porque observo que hoje, mais do que nunca (principalmente nas relações de trabalho), esta situação ocorre. As pessoas não querem apenas se dar bem, elas também querem ver o próximo se dar mal. Muitas vezes parece mesmo que estão mais preocupados em ver o próximo derrotado do que em construir a sua própria vitória.

Muito triste..............

)O(Lua Nua)O( disse...

Algumas pessoas insistem em fazer das outras degraus onde possam subir. Ninguém quer olhar o outro como um irmão. Será que isso um dia mudará?

H K Merton disse...

Precisamos manter a fé. Disso eu sei.

Anônimo disse...

Merton!

Gosto desse blog tbém!
Aliás, vi que vc tirou o nome Jean Sun, pq?

Esse texto eu já conhecia, é bem triste mesmo...

Abraços!

Henrique disse...

Acho esse texto especialmente triste porque fala de um sentimento que é muito real e atual. Dentro da minha própria família eu vivi e vivo essa realidade, motivo pelo qual resolvi me afastar... Mas isso deve ter um motivo, algo importante a ser aprendido com essa situação.

Quanto ao nome, bem, acho que ficava meio sem sentido dois blogs da mesma pessoa com dois nicks diferentes...

Outros abraços!