14.12.06

Mais de Thomas Merton

Túmulo de Thomas Merton

SENHOR, MEU DEUS, não sei para onde vou.

Não vejo o caminho diante de mim. Não posso saber com certeza onde terminará. Nem sequer, em realidade, me conheço, e o fato de pensar que estou seguindo a Tua vontade não significa que, em verdade, o esteja fazendo.

Mas creio que o desejo de Te agradar Te agrada realmente. E espero ter esse desejo em tudo que faço. Espero que jamais farei algo de contrário a esse desejo.

E sei que, se assim fizer, Tu me hás de conduzir pelo caminho certo, embora eu nada saiba a esse respeito.

Portanto, sempre hei de confiar em Ti, e ainda que me pareça estar perdido e nas sombras da morte, não hei de temer, pois estás sempre comigo e nunca me abandonarás, para que eu enfrente sozinho os perigos que me cercam.

"Na Liberdade da Solidão" - Thomas Merton

A Vida Não é Uma Corrida

Um especialista em treinamento empresarial, em seus cursos para motivar o pessoal à competição, costuma contar a seguinte historinha :

“Um avião caiu no meio da selva, no coração da savana africana. Todos os passageiros sobreviveram. Mas, agora precisariam enfrentar um desafio ainda mais difícil: O grupo já começava a ser cercado, de longe, por leões famintos, que sentiam o cheiro de sangue fresco. Cada pessoa do grupo reagiu ao seu próprio modo. Alguns praguejavam, outros choravam, outros ainda pediam ajuda aos céus... Mas um rapaz entre eles teve uma reação única: colocou-se à parte, abriu sua mala (que ele tinha achado no meio dos destroços), pegou e vestiu sua roupa de ginástica e começou a se alongar. Os outros olharam para ele, incrédulos, e perguntaram: ‘O que deu em você? Está achando que vai conseguir correr mais do que os leões? Isso é impossível!’ – O rapaz olhou bem pra cara de todos, sorriu e respondeu: ‘Não, eu não pretendo correr mais do que os leões, eu sei que isso é impossível. O que eu vou tentar fazer é correr mais do que vocês!’”

Achou bonitinho? Eu não. Isso resume bem o pensamento que domina o nosso inconsciente coletivo nos dias de hoje: “Corra por si, salve sua pele e que se danem os outros”.

Na mesma hora em que ouvi essa historinha, fiquei com uma dúvida: Qual a fera mais terrível? O leão, que caça para sobreviver, seguindo seu instinto natural, ou o homem, que destroça impiedosamente seus próprios semelhantes, que ele considera como concorrentes na busca pelo tal "sucesso"? E também imaginei um final diferente para essa historinha ridícula.

Os leões são animais muito poderosos e velozes, exímios predadores por natureza, mas eles não têm o hábito de atacar grupos unidos, compactos. Quando caçam zebras ou antílopes, por exemplo, eles procuram sempre um animal desgarrado ou mais afastado do grupo, que é uma presa mais fácil. Quase todo mundo já viu isso no Discovery Channel... Às vezes, eles são capazes de rondar uma manada de grandes antílopes por dias, até que algum deles se distraia, e aí, ‘PUMBA!!’ – com um ataque fulminante, derrubam e matam o pobre. Então, o que acontece, na minha versão da historinha? Aí vai:

“O 'espertão' tentou sair correndo, crente que todos fariam a mesma coisa e que ele seria o mais rápido do grupo, salvando sua pele egoísta. Mas ele correu sozinho, e os leões foram atrás dele! Foi caçado e devorado. Quanto ao resto do grupo, que permaneceu unido, apesar do medo e da angústia, não foi atacado, já que é costume dos leões não atacar grupos unidos. Depois de algumas horas, foram salvos pela equipe de resgate."

Agora sim... não ficou bem melhor?

Precisamos mudar nossos paradigmas com urgência. A violência no mundo aumenta proporcionalmente ao aumento das absurdas desigualdades sociais. E é esse tipo de mentalidade que está nos levando ao caos. Por que um precisa ter 10 casas de luxo, se ele só pode morar em uma, enquanto milhares moram nas ruas ou vivem em condições sub-humanas?

O ser humano precisa voltar a se solidarizar com o seu próximo. Essa é a mensagem do nosso Cristo. Se hoje eu consigo “correr” mais do que os meus concorrentes, do que isso vai me adiantar, se amanhã o coitado que eu "deixei para trás" me vier assaltar, a mim ou a alguém da minha família? Precisamos aprender a trabalhar juntos, “coexistir” não é só admitir visões de mundo diversas, ser tolerante ou respeitar as diferentes opções de vida. Coexistir com dignidade, de verdade, é fazer a minha parte pelo bem de todos.

Chega dessa cultura absurda que classifica seres humanos em dois grupos: o dos “vencedores" e o dos “perdedores”. Lembre-se que a pessoa que está em último lugar poderia ter sido você!.. Além disso, alcançar uma boa posição na corrida da vida pode não depender só da dedicação de cada um: Se a vida é uma corrida, o que você faria, se tivesse nascido fisicamente incapacitado para correr?

Vamos competir menos e nos ajudar mais.

12.12.06

Mirko Filipovic "Cro Cop"

"Cro Cop" em ação


Esse aí no vídeo é o croata Mirko Filipovic "Cro Cop", considerado por mim, pelos fãs e pela crítica especializada, como o maior lutador do mundo na atualidade, e um dos maiores em todos os tempos, ao lado do russo Fédor Emilianenko.

Eu, que já pratiquei Karatê Kyokushin (luta de contato), Muay Thai e Kung Fu estilos "Shaolin Norte" e "Louva-a-Deus", como fã de artes marciais, também sou fã desse cara! Me identifico com ele em vários pontos, desde a personalidade até o estilo de lutar.

A luta para mim é uma catarse, um modo de "expulsar os bichos", extravasar a energia acumulada pela inércia dos dias modernos. Embora assistindo, assim, pareça uma coisa muito violenta, posso garantir que é só impressão. Claro que a "porradaria" rola solta, mas precisamos entender que esses caras são atletas hiper bem treinados, que têm seus corpos condicionados para absorver golpes, que sabem como cair sem se machucar, etc. Além disso, nas competições de "Vale-Tudo", não vale realmente "tudo". Elas são controladas por regras muito rígidas, os golpes não são permitidos em qualquer lugar do corpo e nos eventos há equipes médicas sempre de prontidão e tudo mais. Pra se ter uma idéia, o automobilismo e o motociclismo, por exemplo, são comprovadamente esportes muito mais perigosos.

13.11.06

Porque Gosto de Thomas Merton

"Sem dúvida, é verdade que a religião num nível superficial, a religião que é infiel a si mesma e a Deus, pode facilmente tornar-se o ‘ópio do povo’. Isto acontece sempre que a religião e a oração invocam o nome de Deus por motivos e com propósitos que nada têm a ver com Ele. Quando a religião se constitui numa mera fachada artificial para justificar um sistema social ou econômico — quando a religião empresta seus ritos e sua linguagem para os propagandistas políticos e quando a oração vem a ser um veículo para um programa ideológico puramente secular, então, sim, a religião se torna um opiáceo. Amortece o espírito a ponto de permitir que a ficção e a mitologia substituam a verdade da vida. E isso acarreta a alienação do fiel, de forma que seu zelo religioso torna-se fanatismo político. Sua fé em Deus, ao preservar fórmulas tradicionais torna-se, de fato, fé na sua própria nação, classe ou raça. Sua ética deixa de ser a lei de Deus e do amor e se transforma na ‘lei do mais forte’: o privilégio estabelecido justifica tudo. Deus está no status quo.”

“A oração não nos cega ao mundo, mas transforma nossa visão do mundo e nos faz vê-lo, assim como ver todos os homens e toda história da humanidade, à luz de Deus. Orar em ‘espírito e verdade’ nos permite entrar em contato com aquele amor infinito, aquela liberdade impenetrável que está por trás das complexidades e dificuldades da existência humana.”

"Contemplative Prayer", de Thomas Merton - (Doubleday, New York), 1996, p. 112-113

3.10.06

Sir Isaac Newton: Homem de Fé

Sir Isaac Newton tinha um amigo que, como ele, era um grande cientista. A grande diferença era que este amigo era ateu, enquanto Newton era um dedicado e devoto crente. Embora sempre travassem batalhas acerca da existência e natureza de Deus, o mútuo interesse deles pela ciência os aproximava. Newton fez com que um mecânico muito habilidoso lhe fabricasse uma miniatura réplica do nosso sistema solar. No centro estava uma grande bola folheada a ouro, representando o sol; girando ao redor dela, fixadas nas pontas de braços de vários comprimentos, estavam bolinhas menores, representando Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno, na ordem e nas distâncias apropriadas. Todas as bolas eram de tal forma ligadas entre si, através de complexos mecanismos de engrenagens e de correias, que se moviam em perfeita harmonia ao se girar uma manivela. Um dia, estando Newton lendo em seu estúdio, com seu mecanismo sobre uma grande mesa perto de si, seu amigo entrou. Ele era cientista bastante para reconhecer, num relance, o que estava diante dele. Apressando-se para lá, lentamente girou a manivela e, com indisfarçável admiração, viu todos os corpos celestiais se moverem em suas apropriadas órbitas e velocidades relativas. Afastando-se uns poucos metros, exclamou: “Wow! Quem fez essa coisa, tão maravilhosa?”

Sem levantar os olhos de seu livro, Newton respondeu: "Ninguém!" Rapidamente, voltando-se para Newton, o ateu disse: "Evidentemente, você não entendeu minha pergunta. Eu perguntei: quem fez este maravilhoso mecanismo?” Levantando os olhos, Newton solenemente lhe assegurou que ninguém o tinha feito, mas que apenas tinha acontecido que, por acaso, a matéria (que o ateu tão fortemente admirava) tinha se agregado na forma do mecanismo. A isto, o atônito ateu replicou com certa raiva: “Você deve pensar que sou louco! Claro que alguém fez isto, ele é um gênio, e eu gostaria de saber quem é ele”.

Deixando seu livro de lado, Newton disse: ”Este mecanismo não é senão uma ínfima imitação de um sistema muito mais grandioso, cujas leis você conhece. Ora, eu não sou capaz de convencê-lo de que este mero brinquedo existe sem um projetista e fabricador; ainda assim, você professa crer que o maravilhoso original (do qual eu grosseiramente copiei e imitei um aspecto do projeto) veio a existir sem ter projetista e sem ter fabricador! Agora, diga-me, por qual tipo de raciocínio você chega a uma conclusão tão absurda?”

23.9.06

Tommy – A Ópera Rock

Cena Final: Tommy finalmente desiste de tentar convencer a humanidade como um todo, sobe a montanha e encontra a Luz. Enquanto sobe, ele canta:

Ouvindo você eu tenho a música!

Olhando para você eu tenho todo o calor de que preciso!

Seguindo você escalo montanhas!

Sinto entusiasmo a seus pés!

Atrás de você, vejo multidões,

Sobre você vejo a Glória!

De você tiro minhas opiniões...

De você aprendo a História!


O homem precisa de DEUS. Somos animais sociais, e animais relgiosos.

18.9.06

Até quando, Brasil?


Se você entrar com o nome "Pit Bull" em qualquer serviço de busca de imagens da internet, vai dar de cara com uma infinidade de fotos de filhotinhos fofinhos e cães bonachões com caras bondosas, muitas vezes posando ao lado de criancinhas. "Cachorro é reflexo do dono"? A segunda foto aí em cima é de uma senhora que pensava assim, a infeliz ex-proprietária de um "dócil" exemplar da raça Pit Bull, após ser atacada no rosto pelo 'inocente animalzinho', enquanto o alimentava, sem nenhum motivo aparente. Bem, essa daí deve ter mudado de idéia, sem dúvida nenhuma...


Pit bull mata bebê de 3 meses; arrancou a criança do colo da avó - Época Estado


Menina de 4 anos morre após ataque de 2 cães pit bull - Worldpress


Pit bull arranca parte do couro cabeludo e orelha de um menino de 3 anos - Correio Brasiliense


Menina de seis anos atacada por pit bull está gravemente ferida no rosto e nos braços - Folha Online


Pit bull mata menina de um ano em Pelotas. O pai da criança disse à polícia que o cachorro sempre foi tranqüilo... - Agência Folha


Pit bull ataca e mata criança na vila Governaço - Álvaro Guimarães

"...Um cão da raça pitbull atacou e matou uma menina de um ano e quatro meses na manhã de ontem na periferia de Pelotas. A pequena Indiele Martins da Silva estava na sala da casa onde morava com os pais e três irmãos, na rua Um da vila Governaço, quando o cachorro invadiu a residência e a atacou. Um casal de tios da menina e vizinhos, alertados pelos gritos das outras crianças, correram para tentar salvar Indiele, mas quando conseguiram dominar o animal ela já estava morta..."


Pit bull ataca criança em Rio Preto - Portal de São José do Rio Preto:

"...Uma criança de apenas um ano de idade foi atacada nesta sexta-feira, em Rio Preto, por um cão da raça pit bull e teve parte da boca arrancada. O garoto J.E.S.V., brincava na rua Coutinho Cavalcanti, no Jardim Alto Alegre, zona leste de Rio Preto, quando foi atacado pelo cachorro. Segundo a polícia, a criança, que sofreu diversos ferimentos graves no rosto, foi socorrida para o pronto-socorro da Santa Casa de Rio Preto, onde passou por uma cirurgia reparadora nos lábios. Testemunhas contaram à polícia, que o cão teria pulado o muro da casa do auxiliar geral L.C.G.S., de 42 anos, que é seu proprietário e avançado na criança... "




Pit bull mata recém nascido em Campos

"...Um cão da raça pitbull MATOU UM RECÉM-NASCIDO no início da manhã desta sexta-feira na Rua C, casa 239, no Parque Aldeia, em Campos. O recém-nascido é filho da dona-de-casa Waldinéia, que tinha acabado de dar à luz. O CÃO DEVOROU A CRIANÇA. Policiais militares e bombeiros entraram na casa para tentar deter o cão..."


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Eu poderia citar milhares de casos, a lista é interminável. Todos os dias ocorrem casos como esses. Um deputado de São Paulo, o Gilberto Nacimento, propôs a proibição da raça em perímetro urbano, mas os amantes de cachorros ficaram revoltadíssimos e conseguiram derrubar a proposta junto ao nosso ex-governador molenga (ele mesmo, aquele que entregou a cidade nas mãos dos bandidos). Detalhe: Em todos os países do primeiro mundo, a criação das raças Pit Bull, Mastin Napolitano e Rottweiler é proibida em zona urbana. Inúmeras pesquisas, inclusive genéticas, já deixaram mais do que comprovado que essas raças, em especial o pit bull, não servem como animais de estimação, porque são naturalmente dotadas de força descomunal e um instinto assassino incontrolável .

Aqui no Brasil, sempre que se tenta tocar no assunto, o álibi dos criadores é o mesmo: "Mas a culpa é do dono e não do animal..." Claro e evidente que a culpa dessas tragédias todas não é dos animais, mas já que é impossível obrigar os donos a agirem responsavelmente (não há como fiscalizar cada marombado tatuado que anda desfilando sua masculinidade insegura pelas ruas, com um pit bull a tiracolo, por este país afora...), eu pergunto: Os cães importam mais do que nossas crianças e idosos, que estão sendo trucidados?

Mas para quem quer ter um cão de grande porte, existem 59 outras raças disponíveis, que servem como excelentes cães de guarda, e não apresentam esses graves problemas de comportamento. Porque a obsessão em criar justamente uma fera potencialmente assassina e imprevisível? Até já posso ouvir o que vão dizer - "Ah, mas o meu é bonzinho..." - Então me diz: e eu sou obrigado a correr o risco?

14.9.06

Tudo ao Seu Alcance

Tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo tudo...

...vem de uma ATITUDE.



"Você pode mudar o seu destino num instante.

Basta mudar a sua direção
".

Escrita num muro no bairro do Tatuapé - SP.

6.9.06

Chefe Seattle

Os índios Duwamish habitavam a região onde hoje se encontra o Estado de Washington - Região inspiradora de uma das mais lindas 'poesias' dedicadas á natureza - o discurso que o Chefe indígena Duwamish (Chefe Seattle) fez ao Governo Americano na época.

Palavras do Chefe Seattle - 1854

O grande chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra. Ele assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade. Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra.

O grande chefe em Washington manda dizer que deseja comprar a nossa terra. Mas como pode comprar ou vender o céu, a terra? Essa idéia é estranha para nós. Cada parte dessa terra é sagrada para o meu povo. Cada agulha de pinheiro brilhante. Cada grão de areia da praia, cada névoa da floresta escura. Cada característica é sagrada na memória e na experiência do meu povo. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores são nossas irmãs. O urso, o veado, a grande águia, são nossos irmãos. Cada reflexo na água cristalina dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz do meu pai. Os rios são nossos irmãos. Eles levam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos. Se lhes vendermos nossa terra, lembrem-se de que o ar é precioso para nós, e compartilha o seu espírito com as formas de vida que sustenta.

O vento que deu ao nosso avô o primeiro alento, recebe também o seu último suspiro. Sabemos que a terra não pertence ao homem. O homem pertence a terra. Todas as coisas são interligadas, como o sangue que nos une. O homem não tece a teia da vida, ele é apenas um fio dela; o que fizer a teia, fará à si mesmo. De uma coisa estamos certos, e o homem branco poderá vir a descobrir isso um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e ferí-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos. O destino de vocês é um mistério para nós. O que vai acontecer quando todos os búfalos tiverem sido sacrificados? Todos os cavalos tiverem sido domados? O que vai acontecer quando os recantos secretos da floresta densa estiverem impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruídos por fios que falam? Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência...

Quando o último pele vermelha sumir, junto com a natureza selvagem, e sua lembrança for só a sombra de uma nuvem sobre a planície, essas praias e florestas ainda estarão aqui? Terá sobrado algum espírito do meu povo? Amamos a terra como o recém nascido ama as batidas do coração da mãe. Se vendermos nossa terra, amem-na como nós a amamos, e cuidem dela como nós cuidamos. Preservem na mente a lembrança da terra, tal como estiver quando a receberem. Preservem a terra para as crianças, e amem-na como Deus nos ama. Sabemos que só existe um DEUS. Nenhum homem, vermelho ou branco, pode viver isolado, No final das contas, somos todos irmãos.

2.9.06

O Verdadeiro Som da Verdade

Uma antiga fábula oriental nos convida a refletir sobre um problema muito comum entre os que buscam caminhos de espiritualidade. O que importa mais? "Forma" ou "conteúdo"?

Um devotado praticante de meditação, depois de anos concentrado em um mantra em particular, havia conquistado insight suficiente para começar a ensinar. A humildade do estudante estava longe de ser perfeita, mas os mestres no mosteiro não se preocupavam com isso.
Com alguns anos ensinando com sucesso deixaram o praticante certo de que não precisava aprender com mais ninguem; mas ao ouvir falar de um famoso ermitão que vivia nas proximidades, viu que a oportunidade era muito atraente para ser deixada de lado.
O ermitão vivia sozinho em uma ilha no meio de um lago, desta forma o praticante contratou um homem com um barco para atravessá-lo até a ilha. O praticante foi muito respeitoso com o velho ermitão. Depois de tomarem chá com ervas o praticante perguntou ao ermitão sobre suas práticas espirituais. O velho lhe disse que não tinha nenhuma prática espiritual, exceto por um mantra que ele repetia o tempo todo para si mesmo.. O praticante estava extasiado: o ermitão estava usando o mesmo mantra; mas quando o ermitão pronunciou o mantra em voz alta, o praticante ficou estarrecido!
"O que está errado?" perguntou o ermitão
"Eu não sei o que dizer. Eu temo que você desperdiçou todas a sua vida! O senhor está pronunciando o mantra de forma incorreta!"
Oh! Isto é terrível. Como eu deveria dizê-lo?
Ö praticante deu a pronúncia correta, e o velho ermitão ficou muito agradecido, pedindo para ser deixado a sós para que pudesse começar imediatamente na prática. Na travessia de volta o praticante, agora obviamente um mestre completo, ficou refletindo sobre o triste destino do velho ermitão.
"Foi muita sorte eu ter vindo. Pelo menos ele terá um pouco de tempo para praticar corretamente antes de morrer."Neste instante, o praticante percebeu que o barqueiro estava olhando assustado, e se virou para ver o ermitão de pé, respeitosamente, sobre a água perto do barco.
"Com licença, por favor. Eu sinto incomodá-lo, mas eu esqueci de novo a pronúncia correta. Você por favor poderia repeti-la para mim?"
" Obviamente o senhor não precisa disto,"gaguejou o praticante, mas o velho insistiu em seu pedido educado até que o praticante repetiu para ele novamente.
O velho ermitão ficou dizendo o mantra muito cuidadosamente, devagar e repetidamente, enquanto caminhava sobre a superfície da água de volta para a ilha.

29.8.06

Consciência Pura

Muitas vezes o povo é egocêntrico, ilógico e insensato.
Perdoe-o assim mesmo.

Se você é gentil, o povo pode acusá-la de egoísta, interesseira.
Seja gentil assim mesmo.

Se você é uma vencedora, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.

Se você é honesta e franca, o povo pode enganá-la.
Seja honesta e franca assim mesmo.

O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.

Se você tem paz e é feliz, o povo pode sentir inveja.
Seja feliz assim mesmo.

O bem que você faz hoje, o povo pode esquecê-lo amanhã.
Faça o bem assim mesmo.

Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.

Veja você que, no fim das contas, é entre você e Deus.
Nunca foi entre você e o povo.

Teresa de Calcutá

28.8.06

Metamorfose

Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo mais, o que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo, alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo mesma tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Transforma-se o amador na cousa amada - Luis Vas de Camões

23.8.06

Toilette

Quem garante que ao escovar os dentes eu não esteja escovando a alma?

Não sinto o sabor de menta ou de clorofila.

Muito menos o hexaclorofeno.

Na boca, apenas, o gosto dos sonhos da noite insone.

Uma mão lava a outra e as duas (em concha) lavam o desgosto.

O pincel, o creme, a espuma a se espalhar na face descoberta.

O gesto ritual de retirar das têmporas a espuma.

A lâmina afiada a deslizar em meu disfarce oculto.

O pente põe bem comportados os fantasmas negros e brancos do pesadelo

de ontem.

Até que a noite volte a confundi-los.

por Flávio Sátiro Fernandes

Corrupção das Palavras

Governos corrompem a linguagem também. Movidos pela propaganda, distorcem sentidos de palavras ao sabor de suas conveniências. George Orwell, o autor de 1984, sabia disso como poucos. No governo Lula, de tantas “despesas não contabilizadas”, uma das palavras que foram mais achatadas, descarnadas, é elite. Elite, antes de mais nada, significa o que de melhor uma sociedade produz; é um termo de teor qualitativo. Mas agora virou insulto. Isso se vê, por exemplo, na campanha eleitoral de TV que começou na semana passada: ter uma origem humilde é a primeira e maior garantia de que um governo é ou será bom. Um sujeito “bem-nascido” é absolutamente incapaz de exercer política a não ser em seu próprio favor. Como se o PT tivesse feito outra coisa no poder!É claro que elite, em uma de suas acepções, é a minoria no topo da pirâmide social ou, de acordo com o glossário marxista, a “classe dominante”. Mas isso hoje no Brasil implica que se trata de um grupo monolítico em sua desonestidade e crueldade secular. Pertencer quantitativamente à elite – ou à elite branca, no pleonasmo do governador Claudio Lembo – é ser um rico que só é rico porque o dinheiro dos pobres é tirado deles. Daí decorrem duas características muito curiosas: nessa vala comum estão todos os cidadãos da classe média para cima, não apenas da alta; e normalmente quem a menciona se auto-exclui, mesmo que há mais de 30 anos tenha o perfil estatístico exato (patrimônios, valores, preconceitos, hábitos) dos que a compõem.Outra ironia: todo o discurso anti-elite de Lula, Dirceu e companheirada é influenciado por leituras reducionistas de professores universitários que citam Raymundo Faoro e Celso Furtado a torto e não a direito. Foram os intelectuais do nobre Morumbi – inconscientes da fonte rousseauniana de seus conceitos supostamente originais sobre a pureza de Pindorama em face da “triste civilização” européia – que ensinaram a Lula que o Brasil é governado há 500 anos pelas mesmas pessoas. Fazer tábula rasa da história e da sociedade brasileira é o esporte da “intelligentsia” local, que endeusou Lula como porta-voz das massas e que agora – apesar de ele ter feito o contrário de tudo que foi sonhado, de ser tucanamente a alegria dos banqueiros e oligarcas – se agarram ao fato de que seu eleitorado é em grande parte formado pelos pobres de regiões como a nordeste. E perdoam nele o que não perdoariam em ninguém.Isso nos leva ao ponto mais interessante de todos: nossa elite – o segmento dos tomadores de decisão nos mais diversos setores da sociedade e do Estado – é mais populista que elitista. Elitismo é a suposição idiota de que só a algumas pessoas é dada a possibilidade de adquirir conhecimento e criar idéias. Sua nêmesis, o populismo, diz representar a massa e saber a solução para seus problemas. Esse populismo vemos o tempo todo nas emissoras de TV, nas gravadoras de discos, nas direções dos partidos, no marketing das empresas. Eles sempre têm certeza do que o público “quer”, e que isso deve ser o mais banal e vulgar possível. Nivelar por baixo, jamais por cima. Tábula rasa. Ou seja: eles têm o mesmo desprezo pela inteligência das pessoas que os elitistas. Na verdade, muitas vezes são as mesmas pessoas. E elas dão as ordens neste grande programa de auditório ou “reality show” que é a ideologia brasileira atual. Sob o doce véu do paternalismo, distribuem a esmola de hoje e não a oportunidade de amanhã. E vencem.

18.8.06

Procurando

Procuro uma religião;

Para me religar com o Universo. Procuro uma religião que seja um verdadeiro modo de vida, e não uma obrigação. Que me faça sentir alegria, mas uma alegria superior àquelas ilusórias, provocadas pelo álcool ou outros tipos de droga, que se vão tão rápido quanto vêm, e deixam como saldo uma tristeza e um vazio ainda maiores que os que haviam antes. O que estou procurando é me integrar àquela Energia primordial que está por trás de todas as coisas, que inspirou Beethoven a compor a sua nona sinfonia, mesmo estando já completamente surdo. A mesma que faz com que eu me levante todos os dias de manhã, que me faz ver que por trás dos meus olhos há algo mais do que apenas massa cinzenta, afinal, geneticamente falando, eu sou praticamente idêntico a um gorila, mas eu, enquanto humano, sou capaz de construir as pirâmides, pintar o teto da Capela Sistina, enviar foguetes a Lua ou uma sonda a Marte, e controlar um robozinho lá no planeta vermelho, daqui da Terra, apenas apertando botões... Então, essa abissal diferença, entre eu e meu irmão gorila, se não está na genética (posto que não se encontra no corpo físico, biológico, que é praticamente idêntico) onde estará, senão numa parte nossa que é imperceptível aos cinco sentidos ordinários, e que convencionamos chamar “alma”?

Procuro uma religião;

Onde haja a Comunhão dos irmãos católicos, que seja composta por membros (que ao menos tentem ser) tão belos e admiráveis quanto os santos católicos, como Francisco de Assis, Tomás de Aquino, Agostinho e tantos outros...

Onde eu encontre o fervor e a fé ardorosa dos irmãos evangélicos e pentecostais...

Cujos membros possuam a inteligência, a tranqüilidade e o bom senso dos irmãos budistas.

Que me dê a serenidade e a esperança inabalável dos irmãos espíritas.

Cujos membros sejam tão cultos e distintos quanto os irmãos agnósticos.

Procuro uma religião cujos membros não apenas se chamem de irmãos, mas onde, principalmente, todos realmente se tratem como tal.. Onde não apenas invoquem o nome de Cristo, mas onde estejam todos empenhados, de fato e na prática, em buscar o Caminho, a Verdade e a Vida. Procuro uma religião que ainda não conheci, que talvez não exista, porque o homem é imperfeito. Mas, afinal, talvez esta religião perfeita seja nunca desistir de procurar.

16.8.06

O Assassino Era o Escriba


Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente. Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida, regular como um paradigma da 1ª conjunção. Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto. Casou com uma regência. Foi infeliz. Era possessivo como um pronome. E ela era bitransitiva. Tentou ir para os EUA. Não deu. Acharam um artigo indefinido na sua bagagem. A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva o tempo todo. Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.


Paulo Leminski

15.8.06

O Amor, por Camões

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre as gentes;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

O amor é um fogo que arde sem se ver - Luiz Vaz de Camões

14.8.06

Nova Mulher


Cada vez que acontece um fato que abala uma cidade ou um país, rapidamente se busca, no calor da comoção, um responsável, um culpado para tanta violência, para tanto desrespeito do ser desumano para com o ser humano. Mas afinal, quem é o culpado? A culpa não é dos políticos atuais, nem da falta de escola, saúde, saneamento básico, distribuição de renda, ou outra coisa desse gênero. A culpa é de tudo isso junto, mas tem um dado que nunca é lembrado nas discussões calorosas: a mulher.
Acredito que alguns com mais idade se lembrarão das suas infâncias. Então por favor, me respondam uma coisa: Quando éramos pequenos, lá pelas décadas de 40, 50 ou 60, nossos papais iam trabalhar, certo? E quem ficava em casa cuidando das traquinagens que a criançada fazia? Quem nos botava de castigo? Quem ensinava a nós sobre o bem e o mal, sobre o que era bom e o que era ruim para as nossas vidas? Quem nos levava e buscava na escola? Quem nos levava para o catecismo? Quem fazia curativo nos nossos joelhos, nos ensinando a ter mais cuidado para cada vez nos machucarmos menos? Quem não deixava que maltratássemos o gato, jogássemos pedra nos cachorros, ou nos ensinava a sermos mais humanos com algum amigo mais frágil? Quem nos ensinava a Ave-Maria e a respeitar ao próximo? Lembram? Não eram as nossas mamães? Mas, as mamães foram para a rua trabalhar, dividir o pão de cada dia com o papai. As mamães, sem querer, alteraram as, micro e macro, estruturas da sociedade. E quem ficou no lugar delas na chefia e condução da educação dos futuros brasileiros? NINGUÉM ! ! ! ! ! Não podemos ser todas ao mesmo tempo, não podemos chefiar e obedecer e nosso dia não tem 48 horas. Não quero, com isso, mandar as mamães de volta para o "aconchego" do tanque e da vassoura, mas quero sim, buscar parte da mamãe que saiu de casa, que deixou de dar o direcionamento para esse povo tão perdido em humanidade. Como? Não sei.

Melanie - Blog "Lua Nua"

10.8.06

Hoje

Um pequeno conto metafórico baseado em uma história popular, de autor desconhecido.

Um belo dia um homem resolveu fazer uma faxina no porão de sua casa. Ao revirar alguns antigos objetos e móveis, há muito esquecidos pelos cantos do empoeirado aposento, encontrou um velho baú, entre outros caixotes, e, curioso, resolveu explorar, com certo cuidado, seu conteúdo. Foi assim que, ao remexer bem no fundo, percebeu que emergia, do mofado escuro, um objeto de formato um tanto quanto inusitado: Uma lâmpada árabe! Como estivesse bastante empoeirada, o homem pensou em limpá-la, e foi exatamente nesse momento que algo ainda mais inusitado aconteceu, quando começou a esfregá-la com uma flanela. O que poderia ter sido? Sim, esse princípio não é nem um pouco original, eu reconheço: O que houve foi isso mesmo que você já imaginou. Um gênio maravilhoso apareceu; e foi logo explicando:

- Estava preso nessa lâmpada há muitos séculos, venho acompanhando a sua família há várias gerações. Foi seu tataravô quem resolveu guardar minha lâmpada no fundo deste baú, por achar que eu poderia provocar problemas para vocês, humanos. Desde então, estou esquecido. Agora, você é o meu novo amo. O que acha?

- O homem, estarrecido, lembrava-se de sua ascendência oriental, enquanto o gênio ainda falava...

- Como um gesto de agradecimento, posso realizar três desejos seus. Pode pedir o que quiser, e eu realizarei.

O homem estremeceu ao ouvir aquilo. – Quer dizer que posso pedir qualquer coisa que eu queira? – perguntou, sentindo uma euforia crescente, que já mal podia controlar.

- Qualquer coisa material, sim.

- Isso é demais!! Deixe-me pensar muito bem... preciso ver... tem tantas coisas que eu quero... Talvez um carro novo... Não, um carro, não! Uma Ferrari esporte! Mas eu nem conheço direito os últimos modelos... Uma casa na mais linda praia, com uma piscina enorme!.. Eu poderia pedir um jatinho, só pra mim... Mas aí teria que pedir também um aeroporto particular... Pensando bem, é melhor pedir um milhão... de dólares, claro. Quer dizer, um milhão não, um bilhão! Cem bilhões! Talvez uma mina de ouro no meu quintal! Que não se esgotasse nunca! Assim, poderia ter o que eu quisesse, para sempre... Saúde não pode, ele falou que tem que ser algo material...

Ele ainda pensava, quando o gênio retrucou:

- Mas há ainda uma coisa a ser dita, amo. Entenda bem: Você receberá um prêmio extra. Saiba que, além de tudo que pedir, você tem direito ainda a um “bônus”: Tudo que você ganhar, o seu irmão também receberá, e em dobro. Isso não é maravilhoso?

- Acho que não entendi bem – respondeu o ainda aturdido descobridor da lâmpada mágica.

- Isso quer dizer – respondeu o gênio – que ao realizar os seus desejos, você estará também presenteando o seu irmão, em dobro. Tudo que você pedir, terá. Mas o seu irmão receberá o mesmo, duas vezes mais. Não entendo porque seu tataravô achava que algo assim poderia causar problemas para a humanidade...

- Então, se eu desejar um carro conversível...

- Você o ganhará. E, além disso, seu irmão receberá dois carros iguais.

- Um milhão de dólares?

- Um milhão depositado na sua conta, imediatamente. E dois milhões na conta do seu irmão.

- Entendo... – ponderou o homem – porque isso?

- É uma lei que eu preciso seguir, porque sou um gênio do bem. Os gênios do bem só podem agir desta maneira, esta é uma benção em dobro para você. Gênios do mal realizam desejos presenteando seus amos com coisas que tiram de outras pessoas, em algum lugar do mundo. Por isso há tantos reveses inexplicáveis por aí. Comigo é o contrário. Para sua sorte, como já disse, eu sou um gênio do bem.

O homem pensou por longos minutos. Parecia indeciso, andava de um lado para outro, dentro daquele porão mal iluminado. Finalmente se voltou para o gênio, que sorria bondosamente. Encarou-o muito sério por um instante, e então, finalmente, falou:

- Já sei.

- E o que vai ser, amo? – perguntou o gênio, pronto para concretizar sonhos maravilhosos. Ao que o homem respondeu:

- Eu quero que você me fure um olho.

8.8.06

Cântico das Criaturas


Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as tuas criaturas.

Especialmente o senhor irmão Sol,
Que clareia o dia,
E com sua luz nos ilumina.
Ele é belo e radiante,
com grande esplendor:
De ti, Altíssimo, é a imagem.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formastes claras,
E preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor
Pelo irmão Vento.
Pelo ar, nublado ou sereno,
E todo tipo de clima e tempo,
Pelos quais às tuas criaturas sustentas.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Água,
Que é muito útil e humilde,
E preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Fogo,
Pelo qual iluminas a noite.
Ele é belo e jovial,
E vigoroso e forte.

Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã, a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos,
E coloridas flores e ervas.

Francisco de Assis (trecho)

2.8.06

Música! Música! Música!


7 de Maio de 1824, Teatro Karthnerthor, Corte Imperial de Viena. Doze anos após a estréia da “Oitava Sinfonia” e nove depois da sua última aparição nos palcos, afastado por doenças várias, Ludwig van Beethoven não só compareceu, como virou as páginas da partitura e indicou o tempo durante a primeira apresentação ao Mundo da sua “Nona Sinfonia, em Ré menor”, conhecida posteriormente como “Coral”. A estréia deu-se perante um público composto por nobres e aristocaratas. Ninguém quis perder a apresentação desta obra, naquela que foi a última aparição pública do compositor. Nesta ocasião particular, o maestro subiu ao estrado de costas para o público. Quando a sinfonia chegou ao fim, o teatro explodiu em aplausos. Mas o gênio não se apercebia. Foi preciso que uma das solistas levantasse o braço e o fizesse virar-se para a audiência, que lhe prestou homenagem de pé. Uma imagem profundamente comovente, testemunhada por todos os presentes. Aos 54 anos de idade e completamente surdo, Beethoven conseguira criar a sua obra mais grandiosa.


Letra traduzida do coro principal: “Hino à Alegria” de Schiller

Alegria, bela centelha divina,
Filha de Eliseu,
Entramos, embriagados pelo fogo
De seu santuário sagrado.

A sua magia une novamente
O que os costumes distanciaram.
Todos os homens se tornam irmãos
Com o toque das suas gentis asas.
O que tem a sorte
De ser amigo de um amigo,
O que conquistou uma boa esposa,
Que junte com o nosso o seu júbilo.

Sim, mesmo aqueles que possuem uma só alma
Para chamar sua.
E aquele que não tiver nenhuma, que se afaste,
Em pranto, da nossa companhia.
Todas as criaturas bebem a alegria
Do seio da Natureza
Pois cada ser, bondoso ou mal,
Segue o seu trilho.

A alegria beija-nos e dá-nos o vinho,
É uma amiga fiel até o fim.
Até mesmo o pior verme cai em êxtase
E o querubim se apresenta a Deus.
Enquanto o sol atravessa
O seu magnífico caminho celestial,
Corram radiantes, irmãos, ao seu encontro,
Alegremente, como heróis vitoriosos.

Deixem-me abraçá-los, milhões!
Este beijo é para o mundo inteiro.
Irmãos, no firmamento estrelado
Habita com ceteza um Pai carinhoso.
Ajoelhai-vos, ó milhões?
Reconheces o teu Criador, mundo?
Porcurem por ele no céu estrelado,
Pois Ele vive por cima das estrelas.


Véspera do Natal de 1989, em Berlim. Mais de cem milhões de espectadores em mais de vinte países assistiram, via satélite, à comemoração da recém-unificada Alemanha e, especificamente, à celebração da queda do Muro de Berlim. Leonard Bernstein, à frente de solistas de renome internacional e de uma orquestra constituída por músicos de todo o mundo, dirigiu o concerto (um dos seus últimos) e tomou a liberdade – na certeza de que Bethoven o teria aprovado – de substituir, no último andamento, a palavra “Alegria” (“Freude”, em alemão), por Liberdade (“Freiheit”). Nesta ocasião não se ouviu o “Hino à Alegria”, mas o “Hino à Liberdade”.

Não deixe de assistir ao filme "Minha Amada Imortal", de Dan Rae.

24.7.06

Ode ao Menino Jesus

por Hana

Eu não sei se esta é uma narrativa fictícia. Simplesmente não sei. Não sou capaz de precisar até que ponto eu meramente inventei uma história, ainda que baseada numa experiência que realmente vivi, e a partir de onde começa uma descrição fidedigna de fatos reais. O que eu sei é que eu a vi. Sim, amigo leitor, eu a vi, e também a ouvi. Na verdade, eu almocei com ela: A verdadeira Verdade! Aqui, pretendo contar como tudo se deu. Se o meu relato puder ajudá-lo, de algum modo, ficarei muito feliz. Senão, agradeço a atenção. Como diz São Paulo numa de suas cartas: “Façam prova de todas as coisas, e fiquem com o que é bom”.

Estava saindo do médico. Após a consulta teria ainda que ir para o trabalho. Estava com fome, já eram aproximadamente meio dia e quarenta e cinco, eu havia levantado cedo, e estava até agora apenas com um cafezinho preto e um minúsculo pão de queijo. Não imaginava que a consulta demoraria tanto, por isso não tinha levado quase nada de dinheiro, e aquele lugar é um bairro chique, qualquer restaurante é caríssimo. Eu trabalho no centro da cidade, onde tudo é muito mais em conta. Mas estava com fome e sem paciência para “encarar” meia hora de ônibus até poder comer. Por isso andei pela Avenida Brigadeiro Faria Lima procurando alguma lanchonete com jeito de não ser tão cara. Depois de uns quinze minutos passeando, ao passar em frente àquela pequena galeria, onde até bem pouco tempo havia o cine Call Center (nunca entendi o porquê desse nome – hoje no lugar há uma igreja evangélica), resolvi entrar. E logo no primeiro corredor, do lado esquerdo, vi que havia um restaurantezinho, simpático e com preços bem em conta, pelo que pude observar no menu, afixado na porta de vidro. Entrei, e só então percebi que o lugar estava lotado. Andei até os fundos do estabelecimento e voltei, olhando para as mesas. Todas ocupadas. O cheiro que dominava o ambiente era muito bom, e meu estômago reclamava. Mas já ia me encaminhando para a porta de saída, porque parecia que estava mesmo lotado. Foi quando vi uma mesa vazia. Já ia me acomodando, ajeitando minha bolsa no canto da mesa, quando percebi bem atrás de mim quatro homens de terno, já se preparando para sentar nesses únicos lugares vazios, e ocupar a última mesa disponível. Na mesma hora pensei: “Eu cheguei primeiro!” – Mas aí vi uma antipática garçonete chegando do meu lado, falando em alto e bom tom, para que todos os presentes pudessem ouvir: “Esse lugar está reservado!” – Não falei nada, só esbocei um sorriso amarelo, retirei minha bolsinha, e assim, meio constrangida, meio irritada, voltei a me dirigir, dessa vez mais depressa, à porta de saída. Ia passando sem olhar para os lados, envergonhada e de cabeça baixa, depois dessa minha pequena gafe. E foi então que aconteceu o que me motivou a estar agora escrevendo. E foi de um jeito completamente ordinário, comum. E foi totalmente inesperado, quando parecia que vivia apenas mais uma experiência dessas triviais, absolutamente rotineiras, que nada têm de especial... Naquele instante, pelo canto dos olhos vi uma mesa de quatro lugares vazia! Quero dizer, quase vazia. Um lugar estava ocupado por um homem. Num primeiro momento, fiquei surpresa ao ver estes lugares vagos. Eu já tinha passado por ali... Mas agora eu não queria mais! Primeiro porque a atitude da garçonete me deixara furiosa. Segundo porque não me sentiria à vontade me sentando, nem à frente, e muito menos ao lado de um homem estranho. Sou muito bem casada, diga-se de passagem... Mas aí, quando vi esses lugares vagos, pelo canto dos olhos, percebi também que o tal desconhecido me olhava fixamente. Esta é uma daquelas coisas que acontecem com todos nós, seres humanos, e não sabemos explicar exatamente como ou porquê. Quando sabemos, às vezes até “instintivamente” que alguém nos olha, sentimos um impulso quase irresistível para olhar de volta. E assim aconteceu: Olhei para aquele homem. E, olhando para ele, vi que sorria para mim. Talvez por um milionésimo de milésimo de centésimo de décimo de segundo, eu tenha chegado a pensar que flertava comigo, ou coisa dessa ordem. Mas bastou fixar o olhar, para perceber que não.

Não havia quaisquer traços de segundas intenções naquele olhar. Era um homem de aparência jovial, porém que transmitia um certo ar de maturidade. Usava cabelos longos e tinha o rosto sombreado por uma barba cerrada, com uns dois ou três dias por fazer. Como sorria, impossível não perceber a perfeita conformação daqueles dentes muito brancos. Pele de um tom bronzeado. Cabelos castanhos, com nuances de acobreado. Camisa xadrez cinza, muito simples, já meio desbotada. Os cabelos, que deviam chegar à linha dos ombros, quando soltos, estavam desleixadamente presos atrás da nuca, com casuais fios soltos escapando por cima das orelhas. Sei o que as leitoras possam estar pensando ao ler esta descrição. Que homem atraente! Mas juro que, ao vê-lo, este tipo de observação não me passou pela cabeça, nem por um segundo. Claro que apesar de casada estou viva, e sei apreciar a beleza masculina. Mas... a visão daquele rapaz sorridente me provocou, isto sim, uma sensação completamente oposta. Algo como o que se sente ao reencontrar um parente muito chegado, ou um velho amigo que não se vê há anos. Ele fez um gesto com a mão, para que me sentasse à sua frente. Mas eu estava decidida a ir embora...

Então me sentei no lugar vago à frente do homem desconhecido que ainda me olhava e sorria. Ele disse: “Pode ficar à vontade...” – Minha irritação com a garçonete mal educada passou instantaneamente, ao ouvir sua voz, como que por mágica. A voz era suave... mas firme. Ouvi-la foi um bálsamo para meus ouvidos. Fiquei constrangida por um instante, mas logo me senti muito à vontade, embora ele não tirasse os olhos de mim. Olhos de um castanho claro incomum. Peguei o menu, aberto à minha frente, sobre a pequena mesa de fórmica branca. Sentia que o estranho ainda me observava. A garçonete chegou, ele pediu o seu prato (perdoe-me curioso leitor, mas eu não me lembro qual foi, porque estava tomada por uma emoção forte e desconhecida). Pedi o especial da casa, sem ao menos saber o que iria comer. Ele continuava me olhando, e eu repentinamente percebi que alguma coisa importante estava me acontecendo. Eu estava sendo transportada de minha condição humana ordinária, para qualquer lugar mais elevado, mais bonito! Os pensamentos racionais dentro de mim já começavam a gritar alto, tentando sufocar a certeza com que meus sentidos me batiam na face! Um vigoroso turbilhão de cores, formas e sensações me tomou de assalto. Fui invadida, num segundo, por uma torrente magnífica de pura loucura, até que finalmente abri e levantei meus olhos, e direcionei meu olhar para aquele rosto! Ele me olhava sim, ainda. Minha boca se abriu, como que contra minha vontade, e uma frase escapou por entre meus lábios.- Você... é Ele, não é?.. – minha voz estava fraca, mas soava nitidamente.

- Sou Eu mesmo – ele respondeu, ainda sorrindo. E completou – Você disse que queria conversar comigo. Que se pudesse, gostaria de ter uma conversa comigo. Comigo e com o Albert Einstein. - Não dissemos mais nada. Nos instantes seguintes, se é que o tempo existe, eu compreendi tudo. Todas as respostas que eu vinha procurando há tempos, finalmente se revelaram. Os porquês desfilaram diante de mim, um a um, enquanto eu, encantada, descobria que a felicidade existe. Tudo que pude fazer depois foi um resumo do que aprendi naquele dia. Mas as explicações são sempre muito imperfeitas, quando se tratam desses assuntos. Transubstanciar o ilimitado intangível em palavras não é tarefa possível. Aí vai:

A inteligência atrapalha tudo. Quanto mais tentam entender, mais se afastam da Verdade. Isso já foi dito antes, mas os homens não podem entender este tipo de ensinamento através da palavra escrita, simplesmente porque, para ler, precisam usar o intelecto. E o intelecto humano é uma ferramenta limitada, que não pode abarcar o infinito. Use sua Consciência. Este é o maior presente que receberam. É a Consciência que faz de você um ser humano, e não um animal, um inseto ou uma planta. Veja os macacos. Recentemente, cientistas descobriram que o código genético de um gorila, por exemplo, é 99,6% idêntico ao do homem. Ou seja, geneticamente falando, homem e macaco são mais que primos. São praticamente uma mesma raça. São fisicamente iguais! E você sabe qual foi o maior feito jamais realizado por um gorila, na natureza, sem auxílio humano? Usar um galho de árvore como apoio, para ajudar a atravessar um rio. E mesmo assim, este “incrível” feito foi observado apenas uma vez. Deixou desvairados cientistas e biólogos! Enquanto isso, seus irmãos humanos constroem computadores e mandam robôs até Marte, para controlar seus movimentos daqui da Terra através de uma caixinha com botões! Então, onde reside essa incrível diferença? Agora já sabem que não é física, posto que geneticamente são praticamente idênticos. Não está no cérebro, portanto. Esta imensa, colossal diferença, não está, absolutamente no corpo físico. Então, que diferença é esta? Este poder inominável que faz com que andem anos luz à frente de qualquer outra criatura conhecida? A chave do poder humano é a Consciência, e o único acesso possível a ela é por meio dos sentimentos; das emoções. Sabe como nascem as doenças? As insanidades, a loucura, os conflitos psicológicos? Eles surgem onde há emoções mal resolvidas. E só podem ser curados por meio do direcionamento correto dessas mesmas emoções. Este é o único caminho possível, esta é a chave para a auto-realização. O controle das próprias emoções. O pensamento racional, analítico, o intelecto, toda a erudição humana, só servem para atrapalhar. São obstáculos no caminho da verdadeira Liberdade. Agora você tem a solução. Use-a. SEJA E FAÇA. Você já está calejado de saber quais são as emoções que deve cultivar e as que deve rejeitar.

"EIS QUE ESTAREI CONTIGO ATÉ A CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS"