14.1.07

O Que Fazer?

Ao saber da morte de seu pai, Hamlet retorna de jornada às pressas, ao seu país de origem, a Dinamarca. Somente para descobrir que sua mãe, a rainha, mal encerrados os funerais, já se encontrava casada com seu tio. Ele ainda tenta assimilar a situação, quando o espírito do seu pai lhe aparece e confirma o que já suspeitava: Sua morte havia sido o resultado de uma conspiração do tio e sua mãe, a rainha. A partir daí, sua paz acaba, e Hamlet passa a viver atormentado por não conseguir decidir se vai se vingar ou ter uma atitude passiva...

Ser ou não ser... eis a questão. Que é mais nobre para a alma? suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes?

Morrer... dormir... mais nada... Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se.

Morrer... dormir... dormir... Talvez sonhar... É aí que bate o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando ao fim desenrolarmos toda a meada mortal, nos põe suspensos. É essa idéia que torna verdadeira calamidade a vida assim tão longa!

Pois quem suportaria o escárnio e os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a agonia do amor não retribuído, as leis amorosas, a implicância dos chefes e o desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivesse em suas mãos obter sossego com um punhal?

Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte - terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou - que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados?

De todos faz covardes a consciência. Desta arte o natural frescor de nossa resolução definha sob a máscara do pensamento, e empresas momentosas se desviam da meta diante dessas reflexões, e até o nome de ação perdem. Mas, silêncio! Aí vem vindo a bela Ofélia. Em tuas orações, ninfa, recorda-te dos
meus pecados
.


Willian Shakespeare

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