31.1.08

Espasmo obscurantista

Por Carlos Alberto Di Franco - A universidade européia sofreu um espasmo obscurantista. O papa Bento XVI, um intelectual reconhecidamente brilhante, cancelou a conferência que daria na abertura do ano letivo da Universidade La Sapienza, em Roma. Em carta encaminhada ao reitor Renato Guarini, autor do convite ao papa, 67 professores, entre os mais de 4.500 docentes daquela instituição, incitaram uma centena de alunos a se manifestarem contra a presença do papa. Bento XVI representaria um ataque ao vanguardismo e à modernidade.

Para evitar presumíveis explorações o papa adiou a sua visita à universidade, fundada pelo papa Bonifácio VIII, em 1303. O texto preparado por Bento XVI, uma fascinante viagem da filosofia em sua busca da verdade, foi lido na sua ausência e longamente aplaudido pelos presentes ao ato acadêmico.

A censura ao papa repercutiu intensamente. Políticos, intelectuais, professores, estudantes e acadêmicos, independentemente de credos e posturas ideológicas, formaram uma imensa corrente em defesa da liberdade. Cerca de 200 mil pessoas reunidas na Praça de São Pedro manifestaram sua solidariedade ao pontífice. "Nenhuma voz deveria ser silenciada em nosso país, ainda mais quando se trata do papa", disse o primeiro-ministro italiano, Romano Prodi.

O fato angariou aliados incomuns para o pontífice. Dario Fo, Prêmio Nobel de Literatura e contumaz crítico da Igreja Católica, defendeu o direito do papa de falar. "Sou contra qualquer forma de censura porque o direito à liberdade de expressão é sagrado", disse ele ao jornal La Repubblica. Para a jornalista Souad Sbai, presidente de uma associação de mulheres muçulmanas na Itália, Roma viveu "uma jornada de tristeza e vergonha porque se celebrou a afirmação de uma ideologia facciosa e arrogante".

Na verdade, o que se viu foi a apoteose da burrice, do laicismo intolerante e da mediocridade. O laicismo fundamentalista pós-moderno não é apenas uma opinião, um conjunto de idéias ou uma convicção, que se defende em legítimo e respeitoso diálogo com outras
opiniões e convicções, como é próprio da cultura e da praxe democrática. Trata-se, infelizmente, de uma "ideologia", ou seja, uma cosmovisão - um conjunto global de idéias, fechado em si mesmo -, que pretende ser a "única verdade" racional, a única digna de ser levada em consideração na cultura, na política, na legislação, na educação, etc.

A ditadura laicista não se identifica com a "laicidade", que é algo positivo e justo e consiste em reconhecer a independência e a autonomia do Estado em relação a qualquer religião ou igreja concreta, e que inclui, como dado essencial, o respeito pela liberdade privada e pública dos cultos das diversas religiões, desde que não atentem contra as leis, a ordem e moralidade pública.

Por outras palavras, o laicismo pós-moderno é um dogmatismo secular, ideologicamente totalitário e fechado em sua "verdade única", comparável - sem exagero - às demais ideologias totalitárias, como o nazismo e o comunismo. Tal como as políticas nascidas dessas ideologias das sombras, o laicismo execra - sem dar audiência ao adversário nem manter respeito por ele - os pensamentos que divergem dos seus "dogmas" e não hesita em mobilizar a "Inquisição" de setores acadêmicos para censurar - sem o menor respeito pelo diálogo - as idéias ou posições que se opõem ao seu dogmatismo.

O laicismo militante pratica o terrorismo ideológico, pelo sistema de atacar os que, no exercício do seu direito democrático, pensam e opinam de modo diferente do deles, acusando-os de serem - só por opinarem de outra maneira - intransigentes, tirânicos e reacionários (três características das quais o laicismo, na realidade, parece querer a exclusividade).

Fazem pensar no leito de Procusto, a figura mitológica grega que, em sua estalagem numa encruzilhada, obrigava os viajantes a se deitarem numa cama de ferro de determinadas dimensões: se o tamanho do hóspede fosse menor que leito, Procusto torturava-o, esticando-o até que tivesse (depois de morrer) o comprimento do leito; caso se tratasse de alguém de respeitável estatura e dimensões maiores que as do leito, reduzia-o também ao tamanho da cama (símbolo da ideologia) pelo sistema de matá-lo, decepando-lhe a cabeça ou as pernas, que sobravam.

O papa, ao contrário de Procusto e de seus atuais seguidores, disse que jamais quis impor sua fé. Declarou-se profundamente unido ao ambiente acadêmico na "busca da verdade e no diálogo franco e respeitoso". Sobra ao pontífice o que falta à minoria arrogante que esbofeteou a liberdade de expressão no coração da universidade romana.

O genuíno fenômeno ético e religioso só pode prosperar no terreno da liberdade. Na verdade, entre uma pessoa de convicções e um fanático existe uma fronteira nítida: o apreço pela liberdade. O fanático impõe, fulmina. A pessoa de convicções, ao contrário, assenta serenamente em suas idéias. Por isso, a sua convicção não a move a impor, mas a estimula a propor, a expor à livre aceitação dos outros os valores que acredita dignos de serem compartilhados.

É preciso, com urgência, desenvolver o senso crítico contra os desvios da intolerância e do fanatismo. A censura ao papa foi um golpe aos valores mais caros da civilização e da democracia.

Os 67 "mestres" da La Sapienza são a antítese da racionalidade e do espírito científico. São, de fato, paladinos de uma nova Inquisição.


Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia E-mail: difranco@ceu.org.br

22.1.08

Juiz suspende sistema de cotas na Universidade Federal de Santa Catarina

“A ciência contemporânea aponta de forma unânime que o ser humano não está dividido em 'raças', não havendo critério preciso para identificar alguém como negro ou branco.” - Juiz Federal Gustavo Dias de Barcellos.

Assim o bravo juiz conseguiu suspender, por liminar, as cotas para negros e egressos de escolas públicas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A decisão foi fundamentada no Artigo 5º da Constituição, que determina que “todos são iguais perante a lei” e no fato de que "é impossível, no Brasil, uma identificação precisa de etnia”.

De acordo com a decisão, a reserva de cotas para negros em vestibulares é de competência privativa da União, uma vez que é a única que pode legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Como as cotas na UFSC são estabelecidas por resolução interna, o juiz considerou que houve “vício de legitimidade” e que a autonomia administrativa da universidade está restrita ao próprio funcionamento, e que “não pode estabelecer direitos ou impor vedações de forma discriminatória”.

Barcellos considerou, ainda, que a ação de reservar cotas a candidatos baseada na cor da pele é chamada de positiva para os candidatos beneficiados, mas que é extremamente negativa aos demais. E questionou: “Como serão classificados aqueles filhos de negros que apresentam traços europeus ou pele clara, herança de algum antepassado distante?”...

Ele também citou o conhecido episódio em que irmãos gêmeos idênticos foram classificados um como branco e outro como negro, na Universidade de Brasília. “Sequer uma lei ordinária lograria dar validade ao sistema de cotas adotado pela UFSC, dada sua evidente inconstitucionalidade”, completou.

Quanto aos candidatos egressos de escolas públicas, ele afirma que “ainda que se reconheça um grau de objetividade bem mais elevado do que o critério étnico, tenho que tal iniciativa deveria estar amparada em lei, conforme já exposto”.

No site da UFSC, consta a informação de que a instituição irá recorrer da decisão.


(Fonte: Agência Brasil)


O meu aplauso para esse juiz. Não é que ainda tem gente que pensa, neste nosso Brasil das incoerências??

18.1.08

"Católicas pelo Direito de Decidir" ?!?!?

Quem são elas, o que fazem e onde estão

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz - Presidente do Pró-Vida de Anápolis

Em 1970, o Estado de Nova Iorque aprovou uma lei que permitia o aborto por simples solicitação da gestante ("abortion on demand") até o quinto mês da gravidez, não se exigindo sequer o domicílio em território estadual. Isso produziu uma avalanche surpreendente de gestantes provenientes de vários outros Estados americanos, principalmente dos da costa leste, à procura dos "serviços" de aborto de Nova Iorque, as quais retornavam logo em seguida para os seus Estados de origem. Essa lei foi um marco decisivo para que, em 1973, a Suprema Corte dos EUA, na célebre decisão Roe versus Wade, declarasse que o nascituro não é pessoa e que não tem direitos, impondo assim a legalidade do aborto a todo o território estadunidense.

Como a Igreja Católica se opusesse à lei abortista de Nova Iorque, três membros do grupo pró-aborto NOW ("National Organization for Women" - Organização Nacional para as Mulheres) fundaram em 1970 a organização CFFC ("Catholics For a Free Choice" - Católicas pelo Direito de Decidir). Seu primeiro ato público foi o de ridicularizar a Igreja Católica, coroando uma feminista, na escadaria da Catedral de São Patrício em Nova Iorque , com o título de papisa Joana I. A primeira sede das CFFC localizou-se em Nova Iorque , nas dependências da "Planned Parenthood Federation of América" (PPFA), a filial estadunidense da IPPF[1], e atualmente a proprietária da maior cadeia de clínicas de aborto da América do Norte.

Embora CFFC seja uma organização anticatólica, o nome "católica" é estratégico para confundir o público. O objetivo é infiltrar-se nas paróquias, nas dioceses, nas universidades católicas, nos meios de comunicação, nas casas legislativas a fim de dar a entender que é possível, ao mesmo tempo, ser católico e defender o direito ao aborto. Além do aborto, tais "católicas" defendem o uso de anticoncepcionais, o divórcio, as relações sexuais pré-matrimoniais, os atos homossexuais, o matrimônio de pessoas do mesmo sexo e todas as formas de reprodução artificial.

Quanto à liturgia, as CFFC assumem uma série de rituais e práticas da Nova Era: são devotas do ídolo feminista Sofia (a deusa Sabedoria) e compõem poesias em honra de Lúcifer. O aborto é tratado como um ato sagrado. São recitadas orações a "Deus Pai e Mãe" enquanto a mulher que está abortando é abençoada, abraçada e encorajada a salpicar pétalas de rosas. A ex-freira Diann Neu elaborou uma cerimônia pós-aborto, em que a mulher abre uma cova no jardim e deposita os restos mortais de seu bebê, dizendo: "Mãe Terra, em teu seio depositamos esse espírito".

"Ainda bem que a minha mamãe não pertence a essa organização..."


O maior obstáculo que os promotores do aborto têm encontrado no seio das Nações Unidas é a presença da Santa Sé, que é reconhecida como Observador Permanente. Em 1999, CFFC lançou a campanha See change ("mudança de sé"). O objetivo, até agora não atingido, é pressionar a ONU a fim de rebaixar o status da Santa Sé ao de simples organização não-governamental (ONG), como a própria CFFC.

Por que atacar justamente a Igreja Católica?

Francis Kissling, que foi presidente da CFFC durante anos desde 1982, explica, em uma entrevista de setembro de 2002, porque a Igreja Católica é o alvo chave: "A perspectiva católica é um bom lugar para começar, tanto em termos filosóficos, sociológicos como teológicos, porque a posição católica é a mais desenvolvida. Assim, se você puder refutar a posição católica, você refutou todas as demais. OK. Nenhum dos outros grupos religiosos realmente tem declarações tão bem definidas sobre a personalidade, quando começa a vida, fetos etc. Assim, se você derrubar a posição católica, você ganha".[2]

Financiamento

CFFC recebe vultosas doações de fundações de controle demográfico, entre elas: Fundação Ford, Fundação Sunnen, Fundação Mc Arthur e Fundação Playboy. Hoje a maior parte dos investimentos é destinada à promoção dos "direitos reprodutivos" na América Latina, ou seja, do direito ao aborto, à esterilização e à anticoncepção.

Em 1987, CFFC criou uma filial latino-americana em Montevidéu, Uruguai, com
o nome de "Católicas pelo Derecho a Decidir". Em língua espanhola foi publicado um livro sarcástico intitulado "Y Maria fue consultada para ser madre di Dios", que apresenta Nossa Senhora como símbolo do "direito de decidir" sobre a prática do aborto. Em 1993 foi criada em São Paulo a filial brasileira, com o nome "Católicas pelo Direito de Decidir" (CDD). Onde elas estão?

Recentemente, as Católicas pelo Direito de Decidir (CDD) transferiram-se para a Rua Sebastião Soares de Faria, n.º 56, 6º andar, São Paulo, isto é no mesmo prédio da sede do Regional Sul 1 da CNBB, que ocupa o 5º andar. O fato tem gerado perplexidade, uma vez que, além de usarem o nome de "católicas", elas agora compartilham o mesmo edifício usado pelos Bispos. Na verdade, o prédio não pertence à CNBB, mas à Ordem Carmelita (Província de Santo Elias). Mas a perplexidade permanece: como uma Ordem de frades católicos pode alugar um imóvel para uma organização abortista?

As CDD e a Campanha da Fraternidade 2008

Na segunda quinzena de dezembro de 2007, as livrarias católicas puseram à venda um DVD produzido pela Verbo Filmes, trazendo na capa o cartaz da Campanha da Fraternidade 2008, com o lema "Escolhe, pois, a vida", o tema "Fraternidade e defesa da vida" e o logotipo da CNBB. O que deixou os militantes pró-vida estupefatos foi a participação da Sra. Dulce Xavier, membro das CDD, no bloco IV do vídeo ("Em defesa da vida: pontos de vista"), com uma fala de cinco minutos, criticando a Igreja Católica por não aceitar a anticoncepção, e defendendo a realização do aborto pela rede hospitalar pública para preservar "a vida das mulheres". A inserção das "católicas" no vídeo tinha sido feita sem a autorização da CNBB, que, quando soube da notícia, exigiu o recolhimento dos DVDs. A Verbo Filmes fez então uma outra edição, desta vez sem a fala das CDD. No entanto, até a data da edição deste jornal, podia-se encontrar no sítio da Verbo Filmes (www.verbofilmes.org.br) a descrição do conteúdo do DVD, ainda com a participação das Católicas pelo Direito de Decidir.

É mais do que urgente que a CNBB emita uma nota oficial sobre as CDD, à semelhança do que fez a Conferência Episcopal dos Estados Unidos, conforme transcrevemos a seguir.

DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS CATÓLICOS DOS ESTADOS UNIDOS (NCCB), de 10/05/2000

Por muitos anos, um grupo autodenominado "Católicas pelo Direito de Decidir"
(Catholics for a Free Choice - CFFC), tem publicamente defendido o aborto ao mesmo tempo em que diz estar falando como uma autêntica voz católica. Esta
declaração é falsa. De fato, a atividade do grupo é direcionada para rejeitar e distorcer o ensinamento católico sobre o respeito e a proteção devida à defesa da vida humana do nascituro indefeso.

Em algumas ocasiões a Conferência Nacional dos Bispos Católicos (NCCB) declarou publicamente que a CFFC não é uma organização católica, não fala pela Igreja Católica, e de fato promove posições contrárias ao magistério da Igreja conforme pronunciado pela Santa Sé e pela NCCB. CFFC é, praticamente falando, um braço do "lobby" do aborto nos Estados Unidos e através do mundo. É um grupo de pressão dedicado a apoiar o aborto. É financiado por algumas poderosas e ricas fundações privadas, principalmente americanas, para promover o aborto como um método de controle de população. Esta posição é contrária à política existente nas Nações Unidas e às leis e políticas da maioria das nações do mundo.

Em sua última campanha, CFFC assumiu um esforço concentrado de opinião pública para acabar com a presença oficial e silenciar a voz moral da Santa Sé nas Nações Unidas como um Observador Permanente. A campanha de opinião pública tem ridicularizado a Santa Sé com uma linguagem que lembra outros episódios de fanatismo anticatólico que a Igreja Católica sofreu no passado.

Como os Bispos Católicos dos Estados Unidos têm afirmado por muitos anos, o uso do nome "Católica" como uma plataforma de apoio à supressão da vida humana inocente e de ridicularização da Igreja é ofensivo não somente aos católicos, mas a todos que esperam honestidade e franqueza em um discurso público. Declaramos outra vez com a mais forte veemência: "Por causa de sua oposição aos direitos humanos de alguns dos mais indefesos membros da raça humana, e porque seus propósitos e atividades contradizem os ensinamentos essenciais da fé católica,... Católicas pelo Direito de Decidir não merece o reconhecimento nem o apoio como uma organização católica" (Comitê Administrativo, Conferência Nacional dos Bispos, 1993).[3]

Bibliografia consultada:
CLOWES, Brian. Mulheres católicas pelo direito de decidir. In: PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA. Lexicon: termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 2007. p. 659-668.
HUMAN LIFE INTERNATIONAL. "Católicas pelo direito de decidir" sem máscaras: idéias sórdidas, dinheiro sujo. Tradução de Teresa Maria Freixinho.
Brasília: Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, 2000.
SCALA, Jorge. IPPF: a multinacional da morte. Anápolis: Múltipla Gráfica, 2004. p. 227-228


Roma, 4 de janeiro de 2008.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz - Presidente do Pró-Vida de Anápolis - Telefax: 55+62+3321-0900 - Caixa Postal 456 - 75024-970 Anápolis GO



[1] IPPF - International Planned Pareenthood Federation (Federação Internacional de Planejamento Familiar), conhecida como "a multinacional da morte", com sede em Londres e filiais em 180 países.
[2] Kissling , Frances . Interview by Rebecca Sharpless. Audio recording, September 13- 14, 2002. Population and Reproductive Health Oral History Project, Sophia Smith Collection.
[3] Original inglês.