30.8.07

Até quando, Brasil?


Se você entrar com o nome "Pit Bull" em qualquer serviço de busca de imagens da internet, vai dar de cara com uma infinidade de imagens de filhotes fofinhos e cães bonachões de cara bondosa, muitas vezes posando ao lado de crianças. "Cachorro é reflexo do dono"? A segunda foto aí em cima é de uma senhora que pensava assim, a infeliz ex-proprietária de um "dócil" exemplar da raça Pit Bull, após ser atacada no rosto pelo 'inocente animalzinho', enquanto o alimentava, sem nenhum motivo aparente. Bem, essa daí deve ter mudado de idéia, sem dúvida nenhuma...


Pit bull mata bebê de 3 meses; arrancou a criança do colo da avó - Época Estado

Menina de 4 anos morre após ataque de 2 cães pit bull - Worldpress

Pit bull arranca parte do couro cabeludo e orelha de um menino de 3 anos - Correio Brasiliense

Menina de seis anos atacada por pit bull está gravemente ferida no rosto e nos braços - Folha Online

Pit bull mata menina de um ano em Pelotas. O pai da criança disse à polícia que o cachorro sempre foi tranqüilo... - Agência Folha

Pit bull ataca e mata criança na vila Governaço - Álvaro Guimarães
"...Um cão da raça pitbull atacou e matou uma menina de um ano e quatro meses na manhã de ontem na periferia de Pelotas. A pequena Indiele Martins da Silva estava na sala da casa onde morava com os pais e três irmãos, na rua Um da vila Governaço, quando o cachorro invadiu a residência e a atacou. Um casal de tios da menina e vizinhos, alertados pelos gritos das outras crianças, correram para tentar salvar Indiele, mas quando conseguiram dominar o animal ela já estava morta..."

Pit bull ataca criança em Rio Preto - Portal de São José do Rio Preto:
"...Uma criança de apenas um ano de idade foi atacada nesta sexta-feira, em Rio Preto, por um cão da raça pit bull e teve parte da boca arrancada. O garoto J.E.S.V., brincava na rua Coutinho Cavalcanti, no Jardim Alto Alegre, zona leste de Rio Preto, quando foi atacado pelo cachorro. Segundo a polícia, a criança, que sofreu diversos ferimentos graves no rosto, foi socorrida para o pronto-socorro da Santa Casa de Rio Preto, onde passou por uma cirurgia reparadora nos lábios... Testemunhas contaram à polícia, que o cão teria pulado o muro da casa do auxiliar geral L.C.G.S., de 42 anos, que é seu proprietário e avançado na criança. O caso será investigado pelo 3º Distrito Policial de Rio Preto..."


Pit bull mata recém nascido em Campos
"...Um cão da raça pitbull MATOU UM RECÉM-NASCIDO no início da manhã desta sexta-feira na Rua C, casa 239, no Parque Aldeia, em Campos. O recém-nascido é filho da dona-de-casa Waldinéia, que tinha acabado de dar à luz. O CÃO DEVOROU A CRIANÇA. Policiais militares e bombeiros entraram na casa para tentar deter o cão..."

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Eu poderia citar milhares de casos, a lista é interminável. Todos os dias ocorrem casos como esses. Um deputado de São Paulo, o Gilberto Nacimento, propôs a proibição da raça em perímetro urbano, mas os amantes de cachorros ficaram revoltadíssimos e conseguiram derrubar a proposta junto ao nosso ex-governador molenga (ele mesmo, aquele que entregou a cidade nas mãos dos bandidos). Detalhe: Em todos os países do primeiro mundo, a criação das raças Pit Bull, Mastin Napolitano e Rottweiler é proibida em zona urbana. Inúmeras pesquisas, inclusive genéticas, já deixaram mais do que comprovado que essas raças, em especial o pit bull, não servem como animais de estimação, porque são naturalmente dotadas de força descomunal e um instinto assassino incontrolável .

Aqui no Brasil, sempre que se tenta tocar no assunto, o álibi dos criadores é o mesmo: "Mas a culpa é do dono e não do animal..." Claro e evidente que a culpa dessas tragédias todas não é dos animais, mas já que é impossível obrigar os donos a agirem responsavelmente (não há como fiscalizar cada marombado tatuado que anda desfilando sua masculinidade insegura pelas ruas, com um pit bull a tiracolo, por este país afora...), eu pergunto: Os cães importam mais do que nossas crianças e idosos, que estão sendo trucidados?

Mas para quem quer ter um cão de grande porte, existem 59 outras raças disponíveis, que servem como excelentes cães de guarda, e não apresentam esses graves problemas de comportamento. Porque a obsessão em criar justamente uma fera potencialmente assassina e imprevisível? Até já posso ouvir o que vão dizer - "Ah, mas o meu é bonzinho..." - Então me diz: e eu sou obrigado a correr o risco?

11.8.07

Karl Marx na fonte da juventude


Do site de Olavo de Carvalho

O recente “tsunami Marx que acaba de invadir as prateleiras das livrarias de todo o País”, como o qualifica entusiasticamente O Estado de S. Paulo do dia 22, comprova, da maneira mais clara possível, algo que venho dizendo há tempos: o bom e velho Partido Comunista ainda domina a indústria editorial e a mídia cultural no Brasil, aí exercendo um poder mais vasto e eficiente até do que nos anos 50 ou 60.

É natural que esse controle monopolístico do mercado jamais admita sua própria existência, procurando, ao contrário, explicar a onipresença retumbante da propaganda marxista nas livrarias como se fosse um fenômeno espontâneo gerado pela pura “vitalidade intelectual” do marxismo, imune ao fracasso econômico dos regimes socialistas.

Mas essa vitalidade intelectual simplesmente inexiste.

Nove décimos do “pensamento marxista” desde a morte de Marx consistem em produzir novos significados para a doutrina do mestre, de modo que ela acabe dizendo o que não dizia antes e, a cada vez que é refutada pelos fatos, pareça emergir do confronto revigorada e vitoriosa.

Uma das estratégias mais freqüentes usadas para esse fim é dissolver a estrutura da teoria tal como aparece nos escritos de Marx e reconstruí-la desde algum ângulo que pareça mais vantajoso – ou menos vexaminoso – desde o ponto de vista do estado presente dos conhecimentos.

O marxismo, como o darwinismo, não sobrevive ao teste do tempo mediante repetidas comprovações da sua veracidade originária, como acontece com a aritmética elementar ou com a tabela periódica dos elementos, mas mediante a descoberta – ou invenção -- de novas veracidades possíveis ocultas sob os escombros das suas pretensões refutadas.

Qualquer teoria, beneficiada ciclicamente por esse tratamento rejuvenescedor, pode adquirir uma espécie de eternidade. O que os responsáveis por semelhante milagre geriátrico jamais informam à deslumbrada platéia é que esse tipo de vida eterna não é próprio das teorias científicas e sim dos símbolos literários, que, justamente por não terem significados estáveis e definitivos, podem sempre se enriquecer de novos e novos significados, até mesmo contraditórios entre si, à medida que a experiência os sugira à fértil imaginação de cada interessado. Mergulhado de tempos em tempos nessa fonte da juventude, até mesmo o “eterno retorno” nietzscheano pode retornar eternamente sem que ninguém jamais consiga refutá-lo de uma vez por todas, embora todo mundo saiba que ele é falso.

Mas essa estratégia, no caso do marxismo, seria impotente para obter resultados tão animadores se não fosse secundada por uma técnica ainda mais sutil e maravilhosa, que é a de camuflar as ações e os efeitos da própria militância marxista sob a aparência de forças sociais impessoais que, hipostasiadas, posam então de agentes da história em lugar dos agentes de carne e osso a serviço dos movimentos revolucionários. Não deixa de haver uma certa virtude ascética na humildade com que os exércitos de formadores de opinião e agentes de influência esquerdistas renunciam ao mérito histórico das suas ações e desaparecem por trás do cenário, atribuindo os resultados de seus esforços à dialética anônima do “mercado”, a qual, abstração feita da guerra cultural incessante movida pela militância esquerdista para corromper o capitalismo desde dentro, parece até funcionar como Marx disse que funcionaria.

O acontecimento mental mais importante e notório da segunda metade do século XX é a disseminação do “marxismo cultural” entre as classes superiores no mundo ocidental. Ela tem como corolário inevitável a apostasia geral em relação aos valores morais e religiosos que fundaram o capitalismo. Na geração dos baby-boomers que hoje brilham nos altos postos das finanças, da indústria, da mídia e do show business , quem não aderiu francamente ao esquerdismo e ao anti-americanismo ao menos abjurou por completo das crenças religiosas dos seus pais e se imbuiu de um progressismo darwinista ou de um liberalismo amoral que não hesita em promover as causas esquerdistas – especialmente o abortismo e o gayzismo –, pensando só nas vantagens econômicas imediatas que isso pode lhe trazer e nem de longe se preocupando com as conseqüências sociais, culturais e políticas de longo prazo. O resultado é que a democracia vai sendo minada nas suas bases por meio dos mesmos instrumentos econômicos criados para fomentá-la. Se, nesse panorama, você fizer abstração do fator “guerra cultural”, que é o principal determinante do conjunto, restará apenas a contradição crescente entre democracia e enriquecimento capitalista, dando razão aparente à previsão de Marx. Assim os próprios agentes da guerra cultural matam dois coelhos com uma só cajadada: dão sumiço às suas próprias ações subversivas e no mesmo ato elevam ao nível de verdade profética a visão fantasiosa que Marx tinha das “contradições do capitalismo”. (Como já expliquei dias atrás -- http://www.olavodecarvalho.org/semana/070620dce.html --, a duplicidade de línguas é traço permanente e estrutural da mente esquerdista, toda ela modelada pelo exemplo “dialético” de Stalin, que fomentava o nazismo em segredo para e o condenava em público.)

O “tsunami Marx”, além de ser um acúmulo de simultaneidades demasiado ostensivo para poder ser explicado ele próprio pelas tendências espontâneas do mercado, é todo ele constituído de mutações retroativas como aquela que acabo de descrever. O novo Karl Marx que ali se apresenta para receber os aplausos da galera tem tanto a ver com o antigo quanto o evolucionismo do sr. Richard Dawkins, onde tudo acontece por acaso, tem a ver com o darwinismo originário no qual nada acontece por acaso (de modo que em qualquer dos dois casos o evolucionista está sempre com a razão).

Qualquer filosofia ou teoria científica que se arrogue o direito de mudar de significado quando bem lhe interesse adquire o delicioso privilégio de não poder ser jamais contraditada pelos fatos. Que uma parcela significativa da classe intelectual e de seus acólitos na mídia se dedique à produção dessas transmutações, é a prova incontestável de que a “cultura superior” está se transformando cada vez mais numa modalidade socialmente aceita de crime organizado.