29.8.06

Consciência Pura

Muitas vezes o povo é egocêntrico, ilógico e insensato.
Perdoe-o assim mesmo.

Se você é gentil, o povo pode acusá-la de egoísta, interesseira.
Seja gentil assim mesmo.

Se você é uma vencedora, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.

Se você é honesta e franca, o povo pode enganá-la.
Seja honesta e franca assim mesmo.

O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.

Se você tem paz e é feliz, o povo pode sentir inveja.
Seja feliz assim mesmo.

O bem que você faz hoje, o povo pode esquecê-lo amanhã.
Faça o bem assim mesmo.

Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.

Veja você que, no fim das contas, é entre você e Deus.
Nunca foi entre você e o povo.

Teresa de Calcutá

28.8.06

Metamorfose

Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo mais, o que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo, alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo mesma tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Transforma-se o amador na cousa amada - Luis Vas de Camões

23.8.06

Toilette

Quem garante que ao escovar os dentes eu não esteja escovando a alma?

Não sinto o sabor de menta ou de clorofila.

Muito menos o hexaclorofeno.

Na boca, apenas, o gosto dos sonhos da noite insone.

Uma mão lava a outra e as duas (em concha) lavam o desgosto.

O pincel, o creme, a espuma a se espalhar na face descoberta.

O gesto ritual de retirar das têmporas a espuma.

A lâmina afiada a deslizar em meu disfarce oculto.

O pente põe bem comportados os fantasmas negros e brancos do pesadelo

de ontem.

Até que a noite volte a confundi-los.

por Flávio Sátiro Fernandes

Corrupção das Palavras

Governos corrompem a linguagem também. Movidos pela propaganda, distorcem sentidos de palavras ao sabor de suas conveniências. George Orwell, o autor de 1984, sabia disso como poucos. No governo Lula, de tantas “despesas não contabilizadas”, uma das palavras que foram mais achatadas, descarnadas, é elite. Elite, antes de mais nada, significa o que de melhor uma sociedade produz; é um termo de teor qualitativo. Mas agora virou insulto. Isso se vê, por exemplo, na campanha eleitoral de TV que começou na semana passada: ter uma origem humilde é a primeira e maior garantia de que um governo é ou será bom. Um sujeito “bem-nascido” é absolutamente incapaz de exercer política a não ser em seu próprio favor. Como se o PT tivesse feito outra coisa no poder!É claro que elite, em uma de suas acepções, é a minoria no topo da pirâmide social ou, de acordo com o glossário marxista, a “classe dominante”. Mas isso hoje no Brasil implica que se trata de um grupo monolítico em sua desonestidade e crueldade secular. Pertencer quantitativamente à elite – ou à elite branca, no pleonasmo do governador Claudio Lembo – é ser um rico que só é rico porque o dinheiro dos pobres é tirado deles. Daí decorrem duas características muito curiosas: nessa vala comum estão todos os cidadãos da classe média para cima, não apenas da alta; e normalmente quem a menciona se auto-exclui, mesmo que há mais de 30 anos tenha o perfil estatístico exato (patrimônios, valores, preconceitos, hábitos) dos que a compõem.Outra ironia: todo o discurso anti-elite de Lula, Dirceu e companheirada é influenciado por leituras reducionistas de professores universitários que citam Raymundo Faoro e Celso Furtado a torto e não a direito. Foram os intelectuais do nobre Morumbi – inconscientes da fonte rousseauniana de seus conceitos supostamente originais sobre a pureza de Pindorama em face da “triste civilização” européia – que ensinaram a Lula que o Brasil é governado há 500 anos pelas mesmas pessoas. Fazer tábula rasa da história e da sociedade brasileira é o esporte da “intelligentsia” local, que endeusou Lula como porta-voz das massas e que agora – apesar de ele ter feito o contrário de tudo que foi sonhado, de ser tucanamente a alegria dos banqueiros e oligarcas – se agarram ao fato de que seu eleitorado é em grande parte formado pelos pobres de regiões como a nordeste. E perdoam nele o que não perdoariam em ninguém.Isso nos leva ao ponto mais interessante de todos: nossa elite – o segmento dos tomadores de decisão nos mais diversos setores da sociedade e do Estado – é mais populista que elitista. Elitismo é a suposição idiota de que só a algumas pessoas é dada a possibilidade de adquirir conhecimento e criar idéias. Sua nêmesis, o populismo, diz representar a massa e saber a solução para seus problemas. Esse populismo vemos o tempo todo nas emissoras de TV, nas gravadoras de discos, nas direções dos partidos, no marketing das empresas. Eles sempre têm certeza do que o público “quer”, e que isso deve ser o mais banal e vulgar possível. Nivelar por baixo, jamais por cima. Tábula rasa. Ou seja: eles têm o mesmo desprezo pela inteligência das pessoas que os elitistas. Na verdade, muitas vezes são as mesmas pessoas. E elas dão as ordens neste grande programa de auditório ou “reality show” que é a ideologia brasileira atual. Sob o doce véu do paternalismo, distribuem a esmola de hoje e não a oportunidade de amanhã. E vencem.

18.8.06

Procurando

Procuro uma religião;

Para me religar com o Universo. Procuro uma religião que seja um verdadeiro modo de vida, e não uma obrigação. Que me faça sentir alegria, mas uma alegria superior àquelas ilusórias, provocadas pelo álcool ou outros tipos de droga, que se vão tão rápido quanto vêm, e deixam como saldo uma tristeza e um vazio ainda maiores que os que haviam antes. O que estou procurando é me integrar àquela Energia primordial que está por trás de todas as coisas, que inspirou Beethoven a compor a sua nona sinfonia, mesmo estando já completamente surdo. A mesma que faz com que eu me levante todos os dias de manhã, que me faz ver que por trás dos meus olhos há algo mais do que apenas massa cinzenta, afinal, geneticamente falando, eu sou praticamente idêntico a um gorila, mas eu, enquanto humano, sou capaz de construir as pirâmides, pintar o teto da Capela Sistina, enviar foguetes a Lua ou uma sonda a Marte, e controlar um robozinho lá no planeta vermelho, daqui da Terra, apenas apertando botões... Então, essa abissal diferença, entre eu e meu irmão gorila, se não está na genética (posto que não se encontra no corpo físico, biológico, que é praticamente idêntico) onde estará, senão numa parte nossa que é imperceptível aos cinco sentidos ordinários, e que convencionamos chamar “alma”?

Procuro uma religião;

Onde haja a Comunhão dos irmãos católicos, que seja composta por membros (que ao menos tentem ser) tão belos e admiráveis quanto os santos católicos, como Francisco de Assis, Tomás de Aquino, Agostinho e tantos outros...

Onde eu encontre o fervor e a fé ardorosa dos irmãos evangélicos e pentecostais...

Cujos membros possuam a inteligência, a tranqüilidade e o bom senso dos irmãos budistas.

Que me dê a serenidade e a esperança inabalável dos irmãos espíritas.

Cujos membros sejam tão cultos e distintos quanto os irmãos agnósticos.

Procuro uma religião cujos membros não apenas se chamem de irmãos, mas onde, principalmente, todos realmente se tratem como tal.. Onde não apenas invoquem o nome de Cristo, mas onde estejam todos empenhados, de fato e na prática, em buscar o Caminho, a Verdade e a Vida. Procuro uma religião que ainda não conheci, que talvez não exista, porque o homem é imperfeito. Mas, afinal, talvez esta religião perfeita seja nunca desistir de procurar.

16.8.06

O Assassino Era o Escriba


Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente. Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida, regular como um paradigma da 1ª conjunção. Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto. Casou com uma regência. Foi infeliz. Era possessivo como um pronome. E ela era bitransitiva. Tentou ir para os EUA. Não deu. Acharam um artigo indefinido na sua bagagem. A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva o tempo todo. Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.


Paulo Leminski

15.8.06

O Amor, por Camões

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre as gentes;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

O amor é um fogo que arde sem se ver - Luiz Vaz de Camões

14.8.06

Nova Mulher


Cada vez que acontece um fato que abala uma cidade ou um país, rapidamente se busca, no calor da comoção, um responsável, um culpado para tanta violência, para tanto desrespeito do ser desumano para com o ser humano. Mas afinal, quem é o culpado? A culpa não é dos políticos atuais, nem da falta de escola, saúde, saneamento básico, distribuição de renda, ou outra coisa desse gênero. A culpa é de tudo isso junto, mas tem um dado que nunca é lembrado nas discussões calorosas: a mulher.
Acredito que alguns com mais idade se lembrarão das suas infâncias. Então por favor, me respondam uma coisa: Quando éramos pequenos, lá pelas décadas de 40, 50 ou 60, nossos papais iam trabalhar, certo? E quem ficava em casa cuidando das traquinagens que a criançada fazia? Quem nos botava de castigo? Quem ensinava a nós sobre o bem e o mal, sobre o que era bom e o que era ruim para as nossas vidas? Quem nos levava e buscava na escola? Quem nos levava para o catecismo? Quem fazia curativo nos nossos joelhos, nos ensinando a ter mais cuidado para cada vez nos machucarmos menos? Quem não deixava que maltratássemos o gato, jogássemos pedra nos cachorros, ou nos ensinava a sermos mais humanos com algum amigo mais frágil? Quem nos ensinava a Ave-Maria e a respeitar ao próximo? Lembram? Não eram as nossas mamães? Mas, as mamães foram para a rua trabalhar, dividir o pão de cada dia com o papai. As mamães, sem querer, alteraram as, micro e macro, estruturas da sociedade. E quem ficou no lugar delas na chefia e condução da educação dos futuros brasileiros? NINGUÉM ! ! ! ! ! Não podemos ser todas ao mesmo tempo, não podemos chefiar e obedecer e nosso dia não tem 48 horas. Não quero, com isso, mandar as mamães de volta para o "aconchego" do tanque e da vassoura, mas quero sim, buscar parte da mamãe que saiu de casa, que deixou de dar o direcionamento para esse povo tão perdido em humanidade. Como? Não sei.

Melanie - Blog "Lua Nua"

10.8.06

Hoje

Um pequeno conto metafórico baseado em uma história popular, de autor desconhecido.

Um belo dia um homem resolveu fazer uma faxina no porão de sua casa. Ao revirar alguns antigos objetos e móveis, há muito esquecidos pelos cantos do empoeirado aposento, encontrou um velho baú, entre outros caixotes, e, curioso, resolveu explorar, com certo cuidado, seu conteúdo. Foi assim que, ao remexer bem no fundo, percebeu que emergia, do mofado escuro, um objeto de formato um tanto quanto inusitado: Uma lâmpada árabe! Como estivesse bastante empoeirada, o homem pensou em limpá-la, e foi exatamente nesse momento que algo ainda mais inusitado aconteceu, quando começou a esfregá-la com uma flanela. O que poderia ter sido? Sim, esse princípio não é nem um pouco original, eu reconheço: O que houve foi isso mesmo que você já imaginou. Um gênio maravilhoso apareceu; e foi logo explicando:

- Estava preso nessa lâmpada há muitos séculos, venho acompanhando a sua família há várias gerações. Foi seu tataravô quem resolveu guardar minha lâmpada no fundo deste baú, por achar que eu poderia provocar problemas para vocês, humanos. Desde então, estou esquecido. Agora, você é o meu novo amo. O que acha?

- O homem, estarrecido, lembrava-se de sua ascendência oriental, enquanto o gênio ainda falava...

- Como um gesto de agradecimento, posso realizar três desejos seus. Pode pedir o que quiser, e eu realizarei.

O homem estremeceu ao ouvir aquilo. – Quer dizer que posso pedir qualquer coisa que eu queira? – perguntou, sentindo uma euforia crescente, que já mal podia controlar.

- Qualquer coisa material, sim.

- Isso é demais!! Deixe-me pensar muito bem... preciso ver... tem tantas coisas que eu quero... Talvez um carro novo... Não, um carro, não! Uma Ferrari esporte! Mas eu nem conheço direito os últimos modelos... Uma casa na mais linda praia, com uma piscina enorme!.. Eu poderia pedir um jatinho, só pra mim... Mas aí teria que pedir também um aeroporto particular... Pensando bem, é melhor pedir um milhão... de dólares, claro. Quer dizer, um milhão não, um bilhão! Cem bilhões! Talvez uma mina de ouro no meu quintal! Que não se esgotasse nunca! Assim, poderia ter o que eu quisesse, para sempre... Saúde não pode, ele falou que tem que ser algo material...

Ele ainda pensava, quando o gênio retrucou:

- Mas há ainda uma coisa a ser dita, amo. Entenda bem: Você receberá um prêmio extra. Saiba que, além de tudo que pedir, você tem direito ainda a um “bônus”: Tudo que você ganhar, o seu irmão também receberá, e em dobro. Isso não é maravilhoso?

- Acho que não entendi bem – respondeu o ainda aturdido descobridor da lâmpada mágica.

- Isso quer dizer – respondeu o gênio – que ao realizar os seus desejos, você estará também presenteando o seu irmão, em dobro. Tudo que você pedir, terá. Mas o seu irmão receberá o mesmo, duas vezes mais. Não entendo porque seu tataravô achava que algo assim poderia causar problemas para a humanidade...

- Então, se eu desejar um carro conversível...

- Você o ganhará. E, além disso, seu irmão receberá dois carros iguais.

- Um milhão de dólares?

- Um milhão depositado na sua conta, imediatamente. E dois milhões na conta do seu irmão.

- Entendo... – ponderou o homem – porque isso?

- É uma lei que eu preciso seguir, porque sou um gênio do bem. Os gênios do bem só podem agir desta maneira, esta é uma benção em dobro para você. Gênios do mal realizam desejos presenteando seus amos com coisas que tiram de outras pessoas, em algum lugar do mundo. Por isso há tantos reveses inexplicáveis por aí. Comigo é o contrário. Para sua sorte, como já disse, eu sou um gênio do bem.

O homem pensou por longos minutos. Parecia indeciso, andava de um lado para outro, dentro daquele porão mal iluminado. Finalmente se voltou para o gênio, que sorria bondosamente. Encarou-o muito sério por um instante, e então, finalmente, falou:

- Já sei.

- E o que vai ser, amo? – perguntou o gênio, pronto para concretizar sonhos maravilhosos. Ao que o homem respondeu:

- Eu quero que você me fure um olho.

8.8.06

Cântico das Criaturas


Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as tuas criaturas.

Especialmente o senhor irmão Sol,
Que clareia o dia,
E com sua luz nos ilumina.
Ele é belo e radiante,
com grande esplendor:
De ti, Altíssimo, é a imagem.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formastes claras,
E preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor
Pelo irmão Vento.
Pelo ar, nublado ou sereno,
E todo tipo de clima e tempo,
Pelos quais às tuas criaturas sustentas.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Água,
Que é muito útil e humilde,
E preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Fogo,
Pelo qual iluminas a noite.
Ele é belo e jovial,
E vigoroso e forte.

Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã, a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos,
E coloridas flores e ervas.

Francisco de Assis (trecho)

2.8.06

Música! Música! Música!


7 de Maio de 1824, Teatro Karthnerthor, Corte Imperial de Viena. Doze anos após a estréia da “Oitava Sinfonia” e nove depois da sua última aparição nos palcos, afastado por doenças várias, Ludwig van Beethoven não só compareceu, como virou as páginas da partitura e indicou o tempo durante a primeira apresentação ao Mundo da sua “Nona Sinfonia, em Ré menor”, conhecida posteriormente como “Coral”. A estréia deu-se perante um público composto por nobres e aristocaratas. Ninguém quis perder a apresentação desta obra, naquela que foi a última aparição pública do compositor. Nesta ocasião particular, o maestro subiu ao estrado de costas para o público. Quando a sinfonia chegou ao fim, o teatro explodiu em aplausos. Mas o gênio não se apercebia. Foi preciso que uma das solistas levantasse o braço e o fizesse virar-se para a audiência, que lhe prestou homenagem de pé. Uma imagem profundamente comovente, testemunhada por todos os presentes. Aos 54 anos de idade e completamente surdo, Beethoven conseguira criar a sua obra mais grandiosa.


Letra traduzida do coro principal: “Hino à Alegria” de Schiller

Alegria, bela centelha divina,
Filha de Eliseu,
Entramos, embriagados pelo fogo
De seu santuário sagrado.

A sua magia une novamente
O que os costumes distanciaram.
Todos os homens se tornam irmãos
Com o toque das suas gentis asas.
O que tem a sorte
De ser amigo de um amigo,
O que conquistou uma boa esposa,
Que junte com o nosso o seu júbilo.

Sim, mesmo aqueles que possuem uma só alma
Para chamar sua.
E aquele que não tiver nenhuma, que se afaste,
Em pranto, da nossa companhia.
Todas as criaturas bebem a alegria
Do seio da Natureza
Pois cada ser, bondoso ou mal,
Segue o seu trilho.

A alegria beija-nos e dá-nos o vinho,
É uma amiga fiel até o fim.
Até mesmo o pior verme cai em êxtase
E o querubim se apresenta a Deus.
Enquanto o sol atravessa
O seu magnífico caminho celestial,
Corram radiantes, irmãos, ao seu encontro,
Alegremente, como heróis vitoriosos.

Deixem-me abraçá-los, milhões!
Este beijo é para o mundo inteiro.
Irmãos, no firmamento estrelado
Habita com ceteza um Pai carinhoso.
Ajoelhai-vos, ó milhões?
Reconheces o teu Criador, mundo?
Porcurem por ele no céu estrelado,
Pois Ele vive por cima das estrelas.


Véspera do Natal de 1989, em Berlim. Mais de cem milhões de espectadores em mais de vinte países assistiram, via satélite, à comemoração da recém-unificada Alemanha e, especificamente, à celebração da queda do Muro de Berlim. Leonard Bernstein, à frente de solistas de renome internacional e de uma orquestra constituída por músicos de todo o mundo, dirigiu o concerto (um dos seus últimos) e tomou a liberdade – na certeza de que Bethoven o teria aprovado – de substituir, no último andamento, a palavra “Alegria” (“Freude”, em alemão), por Liberdade (“Freiheit”). Nesta ocasião não se ouviu o “Hino à Alegria”, mas o “Hino à Liberdade”.

Não deixe de assistir ao filme "Minha Amada Imortal", de Dan Rae.